Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1998Crônicas

Sai debaixo, seo Pagano!

Imitar é uma arte. No fundo, no fundo, o imitador é um estelionatário, que se apropria das qualidades do imitado. E no mundo do crime, os estelionatários são os mais envolventes, sedutores, criativos. Convencem. É um perigo conversar com eles, mesmo na prisão. Transmitem uma imagem de desamparo, de coitadinhos, de injustiçados. Quando se sai da cela, após uma entrevista com eles, dá até vontade de deixar algum dinheiro, para ajudá-los. São os “artistas do mal”, esses “171”. Por isso, quando artistas de verdade aparecem no vídeo imitando outros artistas, personalidades, atraem tanto a atenção. São admiráveis.

Agora, apareceu em Campinas um deles, os do “mal”, imitando justamente seo Pagano, nosso prefeito. Pedindo dinheiro pra reformar creches da cidade, ele levou no bico o empresário Armindo Dias, o ex-secretário da Educação Paulo de Tarso Soares e ia enrolando outro empresário, o Eloy Tuffi, da Microcamp, quando a polícia chegou.

Há grandes imitadores no Brasil, desde William Fornneau, o primeiro a dar show na televisão, passando por Oscar Ferreira, “o homem das mil vozes”, Serginho Leite, do “Show de Rádio”, da Bandeirantes, a turma do Casseta&Planeta… A lista é grande, de imitadores e imitados. Gil Gomes, Roberto Carlos, Gal Costa, o Papa João Paulo II, Fiori Gigliotti, Dalva de Oliveira, Lula, Maluf, FHC são as principais “vítimas” desses artistas.

Há duas passagens históricas nesse mundo da imitação. Certa vez, na Inglaterra, Charles Chaplin pegou o segundo lugar num concurso de imitadores do próprio Charles Chaplin, interpretando Carlitos – para desmoralização da comissão julgadora. (Uma vez, de brincadeira, ligaram para o Léo, secretário do reitor da Puccamp, imitando exatamente o doutor Barreto. Juro que não fui eu nem o Roberto Godoy. Mas essa é outra história.).

A outra aconteceu no início da última gestão de Adhemar de Barros. O jornalista Ferreira Neto, repórter de plantão no Palácio dos Campos Elíseos, então sede do governo paulista, ligou para o então presidente dos Diários Associados, Emundo Monteiro, imitando aquele governador: “Edmundo, venha agora a Palácio; precisamos conversar sobre sua nomeação para a presidência do Banco do Estado de São Paulo…”.

O serviçal número um do Assis Chateaubriand entrou correndo, passou pela sala de imprensa e contou aos jornalistas a novidade, antes de subir ao gabinete do senhor A. de Barros. Lá, Edmundo encontrou o governador pasmo com o “convite” que jamais fizera. Adhemar ainda foi obrigado a arrumar uma saída para o interesseiro Edmundo, porque este já havia comunicado a escolha aos repórteres…  Conselho da velha raposa: “Diga a eles que, de fato, o convidei, mas que você não aceitou.”. (Expediente parecido foi usado por Tancredo Neves, para justificar porque não nomeara Paulo Brossard para o Ministério da Justiça. Com uma diferença: ninguém telefonou para o jurista gaúcho imitando Tancredo.).

Mas o que mais me chama a atenção nessa incrível história do imitador do seo Pagano, além da ousadia e da criatividade do estelionatário, é seu nome. Vocês viram? É Ewer-ton Cavalcante. Será que o apelido desse imitador do prefeito é Tom Cavalcante, justamente o imitador mais popular da atualidade?

Pregado no poste: “Seo Pagano, quando o senhor diz que apóia o Maluf, é o senhor mesmo ou algum imitador?”

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