Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Renato e Roberto

“Não ligo. Pouca gente lê, mas lê. Especialmente se sai no alto da primeira. A conquista da manchete exige, primeiro, apuração. É preciso obter o máximo de informações (uma só, perdida, na pressa ou na vadiagem, pode alterar toda a história) e checar uma por uma (o erro corrói não só a reputação de suas vítimas, mas também a do autor, do jornal e de toda a Imprensa). Aí vem o texto. Se não for claro, não presta. Engabela o leitor e não tem destaque.”.
Esse é o José Roberto de Alencar, mineiro de Santa Rita, puro-sangue e um dos últimos entre os moicanos da (boa) reportagem, que (quase) não se faz mais. Está com um livro sen-sa-ci-o-nal na praça – Sorte e arte – pela editora Alfa Omega, 188 páginas de peripécias nesta vida de contar a história à queima-roupa. Cada aventura, uma lição para iniciantes e veteranos desta arte agonizante. E para quem não é do ramo, paixão em cada linha – pelo ofício e pelos leitores. Não deixe de ler: faz bem.
Quando se lembrou de que sou campineiro – e não nos víamos havia dez anos – falou rapidamente de sua passagem pelo Diário do Povo, há mais de vinte e, não sabemos por que cargas d’água, desandamos a recordar um grande campineiro, Renato Corte Real. Incrível, o Alencar (Zé Grandão, para os amigos) soltou de cabeça cinco trocadilhos do Renato, arte em que ele era imbatível.
Primeiro, um assalto a banco investigado pelo delegado Coriolano Cobra: “O Cobra descobre os cabras e, de quebra, cobra os cobres.” Segundo, a morte do marido de uma vaca, baleado: “Não há touro que ature um tiro de Taurus.” Terceiro, sobre a doença de seu cachorro: “O baço do basset dói à beça e ele perde a bossa.”. Quarto, chegando com um presente para Décio Capuano, ex-marido da Hebe Camargo: “Queria que você desse o doce ao Décio.” E quinto, na porta de um restaurante italiano: “Breve aqui, pasta e basta. Ainda bem, se não poderia ser ‘Peixe, posta e bosta.’”.
Pregado no poste: “Repórter é como a bolinha no ping-pong: vital”.

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