Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Quem não tem, caça com cabo

Brasileiro se vira. Engenheiro da Kodak veio ao Brasil para exibir nova e “revolucionária” tela para slides. Faz tempo, isso. Na filial daqui, espantou-se com a qualidade da tela que um operário botocudo fez e mostrou a ele. “Como você faz isso?” “Fácil. Peguei essas garrafas de plástico de guardar Cândida, Q Boa, água sanitária, manja? Derreti e estiquei na mesa. Depois foi só colocar a moldura…” Na filial de uma fábrica de fertilizantes, aquele cheiro horrível de enxofre desapareceu como por encanto. É que nos montes do estoque, os empregados, antes do almoço, jogavam ali “uma pro santo”. A pinga acabou com o fedor. Foi assim que os brasileiros acabaram com o componente mais cancerígeno da gasolina, o chumbo tetraetila. Foi só misturar álcool anidro.

Quando chegou o primeiro aparelho de controle remoto ao Brasil, por 1957, era da Philco. Ligava, desligava, mudava de canal, subia e baixava o volume. Mas não resolvia o principal problema da época: a imagem inteira subia e descia, ia pra lá e para cá a toda hora, e era preciso acionar um botãozinho chamado “vertical” e outro, “horizontal”. Lembra? Por isso que naquele tempo, quem tinha televisão em casa não ficava gordo de jeito nenhum. Era um tal de “senta, levanta, senta, levanta…” Tanto que fez um  sucesso tremendo a calça de Nycron. E ela ganhou o mercado com uma propaganda que mostrava um homem justamente no “senta, levanta”, para arrumar a TV. A calça dele nem perdia o vinco. Lembrou, né? (Não, quem não perdiam as tiras eram as sandálias havaianas. Também não tinham cheiro. Quem tinha cheiro era o Sete Vidas…).

Foi então que um vizinho comprou na Loja Líder, ali na Regente Feijó, uma TV Philco com controle remoto. As outras marcas — Admiral, Invictus, Colorado RQ, ABC – Arte Beleza e Classe, Columbia – não tinham o tal “pareinho”. Demorou para o controle remoto ‘pegar’ no Brasil. Dona Globo, sempre com medo da concorrência, e do efeito ‘zap’, não anunciava televisor com controle remoto.

Ah! Mas lá em casa nós também tínhamos nosso controle remoto. Melhor que o da Philco. Acionava até o “vertical/horizontal”. Baratinho, baratinho. Um cabo de vassoura com um furinho e um corte na ponta. Para ligar, desligar e mudar de canal, usava o corte. Para segurar a imagem e mexer no volume, o cabo com furinho encaixado no botão (Essa conversa está ficando pornográfica. Acho bom parar por aqui.).

Agora, com essa mudança para Araçatuba, perdi o “pareinho”. Resultado, vejo TV encaixando o cabo no botão. Só uma vez por semana: na hora do “Terra da Gente”.

Pregado no poste: “Pague imposto para sustentar os políticos, coitados”

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