Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Quem me dera, se foria…

Porca pipa!

Aquela santa que mora aqui em casa quase me estraçalha. E soltou o verbo. Verbo, adjetivos desqualificativos, substantivos concretos e abstratos, sólidos, líquidos e gasosos, provérbios, advérbios, partículas apassivadoras, conectivos, conjunções perifrásticas, agentes da passiva, predicados do sujeito, paragoges, metáforas, metáfases, gênero, número e grau. Tudo!

— Não li antes de  você mandar e agora essa mancada está gritando aos olhos mais do que os galos da rinha do Duda Mendonça.

“Gritando aos olhos?”

Mas quem nunca errou na vida? Até dona Izalene erra, uai! Um dia, escrevi aqui “não sei o que ouve” e a Isabel, nossa telefonista, “num minutinho” (é sua expressão favorita) ligou para me corrigir. Outra vez, reconheço com humildade, escrevi “palhativo” e a bronca veio do editor. Numa reportagem esculhambando o Paulo Maluf, escrevi “Ponte Pêncil”. Quase me trucidaram. E quando eu disse que o Roque Melillo, aquele miolionário que deixou a herança para Campinas, vivia num “cubículo de três cômodos”, em Nova York? O revisor do Estadão ligou em casa de madrugada para me corrigir: “Onde já se viu um cúbiculo de três cômodos? Só por que fica em Nova York, o cubículo tem de ser maior?”.

O castigo vem a cavalo. Quando a santa estrilou, eu tinha acabado de ligar para a redação do Cosmo. Atendeu a Paula Vialto, e eu fui meio, só meio, irônico:

— A primeira notícia, fala no lixo da dona Izalene, né? E a segunda?

— Já entendi, muito obrigada!

A culpa não foi da Paula, mas estava escrito: “Polícia percegue quadrilha por três cidades” Com “c”, ia perseguir a vida inteira…

Atrás da porta de banheiro público – até de banheiro de colégio! – se vê cada uma! Nádega com “k”; baralho, também; tênis com “p”; novalgina com dois esses; soda com “f”; k-7 com “c”. E os palavrões, então? Essa meninada de hoje não sabe nem escrever palavrões…  Nunca leram Jorge Amado. Deus me livre!

Semana passada, pobre de mim, quando conversávamos aqui sobre as galinhagens do PT, escrevi a história do dono do bar que ficava ao lado de um rinha, aí no Largo de São Benedito. Ficou assim: “Quando a polícia baixava, ele dava voltas na manivela da caixa registradora, o barulho do sininho alertava e os meninos agarravam a ler, como se ‘FAZESEM’ lição de casa…”

Tenho certeza de que minhas mestras Zilda Rubinski, Maria José Biagio, Quinita Ribeiro Sampaio, Wilma César da Silveira e o mestre José Alexandre dos Santos Ribeiro não leram aquela crônica. Caso contrário, estaria até hoje com ardência ardosa na orelha. Seu eu disser que quis escrever “fizessem” você acreditaria? Adianta por a culpa no computador. Na Adriana Villar, que me disse ter lido o texto e observou que eu escrevi “Isalene” em vez de “Izalene” e ela corrigiu? A culpa foi minha. Mas há erros piores, que deixam pistas para a polícia. Quer ver?

Nosso Cecílio Elias Neto há de se lembrar. Puts! Faz tempo isso. Uns quarenta anos. A polícia descobriu um monte de dinheiro falso, aí no Castelo (até falsário erra). Um investigador matou a charada na hora: “São de Piracicaba!”. Batata! Pudera. Na frente da nota, estava escrito “Pedro Áravres Cabrar”. Atrás, frei Henrique de Coimbra rezava a Primeira Missa num canavial. E embaixo, escreveram “Mir cruzêro”…

Pregado no poste: “Arco, tarco e verva, seo Cabral!”

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