Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Quem jogou o míssel?

O Geraldo Trinca está assustado com a guerra. Comparando o que aparece na TV e o que acontece em Campinas, ele grita:

“Bagdá é aqui!

Campinas foi bombardeada! Se passarmos pela Avenida Anchieta, depois do posto, existe só meia pista para andarmos de carro: a outra metade caiu! Na Princesa d’Oeste, embaixo do Laurão, a avenida está afundando! Na Orosimbo Maia, uma torre da CPFL ameaça cair! Cavaletes da Setransp, alertando para o perigo, estão mais espalhados do que Camelôs!” (Camelôs com maiúscula, porque são os devotos da santa prefeita.)

“Tia Izalene foi buscar dinheiro para reconstruir Campinas em Brasília! Mas no momento, ela passeia ‘nas europas’.

Um  eucalipto gigantesco caiu no teto do Ginásio Alberto Krum, do Colégio Culto à Ciência! Nos Campos Elíseos, o caminho inverso: é o esgoto que entra nas casas! Os moradores dos prédios em volta do Centro de Convivência, por meio de faixas, alertam sobre os riscos do teatro! Aqui, helicópteros salvam pessoas em enchentes! Ouvem-se sirenes de viaturas em toda parte! Nas ruas, os buracos estão aumentando! Aqui, pai e mãe jogam filho contra  carro em movimento e filha contra troncos de árvores!

Que coalizão é essa que destrói Campinas?”

(Não sabia que o Trinca é sobrinho da querida prefeita…)

Esse cenário me fez desistir de dar um pulo na “Camelândia”. Agora, “pra lá de Bagdá fica Campinas”, lugar onde Judas perdeu as meias – perdeu ou foram roubadas? Já viram Camelôs vendendo as botas do Judas, com a etiqueta “Made in Campinas — Ju do Cudas”. Sonhei que fugia, a pé, pela estrada de Souzas, sem destino. E nada de aparecer a Hípica, o templo Mórmon, o parque do monsenhor Salim… Souzas parecia mais longe do que nunca. Estranho, caminho de chão batido, terra vermelha como a do Castelo, alguma poeira, mas sem tempestade de areia nem Marcos Uchoa conversando com a Fátima Bernardes pelo “ódiofone”.

De repente, Souzas! Só que o distrito ficava na rotatória da Anhangüera. E no meio da praça, um armazém. Na porta, duas ofertas escritas com giz na lousa: “Caldo de cana gelado” e “Caldo de gelo encanado”. Lá dentro, pendendo do teto, um míssil. Em volta, cheio de gente a especular:

“É igual àquelas bombas que os americanos jogaram no Japão.”

“A Enola Gay? Justo em Campinas!?”

“Não, aquela era mais gordinha.”

“Nada disso, essa é mais comprida.”

“Vamos abrir ou esperar o pessoal do Bush?”

Decidiram abrir. O míssil estava recheado de ovos de chocolate.

Pregado no poste: “Decididamente, esse míssil não veio de Valinhos”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *