Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

“Quem foi que sortô?”

A Silvana Guaiume abriu meu baú e tirou dele duas marcas do rádio de Campinas: Bambuzinho e Rivail. Dupla infernal. Conheci os dois quando o Bambu trabalhava na Cultura e o Rivail mais Rivael acordavam a cidade na Brasil, já no lugar de outra figura inesquecível, Vitor Modesto, com o seu “Bom Dia, Campinas”.  Na Educadora, Lombardi Neto e Vladimir Matiazzo estouravam a audiência com “A hora do trabalhador — uma hora de alegria pra quem sua todo dia…”. Logo depois da “Alvorada sertaneja”, do Pedro Azevedo. Na Cultura, depois do Bambu, vinha outro grande do rádio de Campinas, Geraldo Sussuline.

Mas o Bambuzinho está gordo que só ele! Deixou de ser o Bambu esguio que conheci e virou um barril (de chope, amigo?). Era o começo da vida artística, ainda a bordo de um táxi, para enriquecer o leite das crianças. O Rivail, apesar dos anos, continua cada vez mais jovem. São ótimos.

Gostei da sinceridade do Rivail, quando “La” Guaiume perguntou sobre os convites para ele entrar na política. Vale repetir a resposta, porque é a alma do povo de bem falando: “Nunca aceitei, porque não gosto de misturar as coisas. Não entro em política para não ter que renunciar. Com  minhas opiniões, ou renuncio ou eles me matariam. Para quem ganhou centavo por centavo honestamente, é muito difícil aceitar corrupção. Quando a gente mexe com as coisas dos outros, tem de ter muito mais cuidado do que quando lida com as nossas coisas. Se existissem dez políticos com essa intenção na cidade, tudo seria diferente.”. Sábia palavras, mestre Rivail. Sábias palavras!

O Bambu conseguiu me fazer falar um palavrão no ar. Ainda bem que seo Abel Pedroso (tudo bom comendador?) não ouviu. (Cá entre nós, ele dizia que gostava, mesmo, era de ouvir a Rádio Eldorado…).

Também, foi às cinco da manhã de um domingo… Eu terminava um programa que começava à meia-noite de sábado, o “Vigésima Quinta Hora”, onde seminaristas, ‘primas’, boêmios, advogados, bombeiros, polícia, bandidos e até professores da Unicamp tinham vez e voz. Valia tudo.

E domingo era dia de música ao vivo no programa do Bambuzinho: baixavam sanfoneiros, violeiros, duplas e até um trio de música sertaneja (coisa difícil de aparecer): Maracá, Pontelli e Dorinho. Lembra, Bambu? Vinham de táxi, porque naquele tempo de grana curta ninguém tinha carro e os ônibus da CCTC começavam a circular justamente às cinco da matina.

No rádio do carro, aqueles artistas vinham ouvindo o “Vigésima Quinta”, que eu sempre encerrava batendo um papo com meu amigo Bambu. E foi num desses papos que a tragédia, então, se deu. No meio da prosa, apagou a luz. Pensei que a rádio tivesse saído do ar e exclamei “Ô c…! Outra vez!”. Na técnica de som, o sonoplasta Baltazar das Neves (àquela hora, mais ‘sono’ do que ‘plasta’) disse: “Não foi nada, vá em frente”. Fomos.

O primeiro sanfoneiro chegou roxo de tanto rir. Me viu no corredor e perguntou: “Quem foi que sortô um ‘c…’ destamanho, agora há pouco no microfone?!”. Gelei. Era só a maldita lâmpada do estúdio que tinha se apagado. A rádio continuava no ar, meu Deus!

Pregado no poste (em Batatais): “A Tiazinha da cidade de… é o Zorro”. Adivinhe.

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