Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Quando…

… o conta-gotas do Stévia funcionar direito

… “tênis de marca” calçar gente “sem marca”

… roupa de grife servir em gente sem grife

… ela for mais justa do que as calças

… registro de nascimento valer mais do que pedigree

… o salário dos funcionários das empresas de pedágio, telefone e energia subir como as tarifas

… pé-de-moleque não quebrar o dente nem chiclete arrancar a dentadura

… não for perigoso vestir as cuecas em pé, depois dos 50

… o Faustão parar de dizer “orra”, “ô loco” e “afinal de contas”

… campineiros daqui e de fora reconquistarem Campinas

… o coronelismo acabar em Campinas e a chefe da guarda não usar seus homens da força paramilitar para intimidar representantes do povo

… dona Izalene jurar que não bate continência para a chefe da guarda (‘Heil!’)

… o maestro Carlos Gomes enfiar sua batuta no devido lugar dos que desprezam sua memória e a de Campinas

… o orçamento da dona Izalene for participativo

… “Terra da Gente” e “Caminhos da Roça” forem imitados pelas TVs

… todos os genéricos forem mais baratos do que os remédios de marca

… a figada Ralston voltar ao mercado

… dona Izalene explicar porque teve só 26 votos para vereador

… o leite Ninho não empelotar

… livro for mais lido do que revista de fofoca

… a prefeita tiver coragem de plantar um Alecrim no largo da Catedral

… o Oziel, camelôs, garis, flanelinhas, torcidas organizadas deixarem de ser meio de vida para políticos

… os políticos exigirem que os camelôs cumpram a lei e dêem nota fiscal

… a lei for cumprida pelos políticos

… os filhos dos políticos tiverem de estudar só em escola pública

… e político tiver de madrugar para matricular o filho em escola pública

… só o SUS puder atender políticos e parentes

… os políticos só puderem andar em transporte público

… o salário mínimo for o único ganho dos governantes

… o governante tiver de pagar do próprio bolso o que come e… bebe

… político tiver de comprar senha na fila do INSS

… o enredo de uma novela não tiver mãe procurando filho e vice-versa

… samba-enredo não tiver “ô, ô, ô, ô, ô” na letra

… perneta entrar em templo caça-níquel e sair correndo: “Milagre!”

… um bugrino se lembrar de como foi o Guarani

… ninguém falar “com certeza”, “essa coisa”, “fala sério”, “tipo assim”

… as jovens não precisarem sonhar com um “futuro por trás”

… nenhum jovem precisar vender droga para ganhar (e perder) a vida

… político não tiver salário e ainda houver candidatos

… todos os projetos-de-lei forem de interesse público

… nome de candidato não sujar a cidade em tempo de eleição

… vereador, deputado e senador ganhar igual ao aposentado

… político não puder ganhar mais do que professor nem médico

… ninguém enganar jornalista e jornalista não enganar a ninguém

… advogado de traficante receber como advogado ad hoc

… modelo for modelo e atriz for atriz

… trabalhador rural for tratado como trabalhador e invasor como invasor

… plano de saúde não for conseqüência da previdência falida e roubada

… a previdência falida e roubada não interessar a ninguém

… a propaganda eleitoral for transmitida só no canal do esgoto

… acabar o mercado negro de receitas azuis

… um partido se coligar sem ninguém ganhar nada

… quem matou seo Toninho confessar se alguém mandou

… o povo ganhar a guerra das cervejas

… polícia for polícia, e bandido, bandido

… a polícia prender e a lei não deixar a Justiça soltar

… lei não for atribuição de políticos

… o Lula sair do palanque e jurar que estava sério quando prometia

… tudo isso acontecer, o Brasil será melhor (Campinas, também)

Pregado no poste: “Duvido!”

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