Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Prezada dona Maria Portões

Está certo que seu filho largou os estudos na Universidade de Harvard para fundar um império e hoje é um dos homens mais ricos do mundo.

Está certo, também, que por causa dele, a senhora é mais xingada do que juiz de futebol, dona Izalene, a mãe do Bush ou pé da cama, quando ele acha nosso dedinho – principalmente no escuro.

Sei que a senhora é rica. Seu marido foi advogado de grandes empresas e vossa senhoria, ó Maria! (Ih! Rimou!), era professora e membro do conselho da Universidade de Washington além de presidente da United Way International. (Sei lá o que é isso!)

Seu filhinho querido teve o ensino fundamental em escola pública. Aí, a senhora o matriculou numa escola particular, em Seattle. E logo aos 13 anos, esse pestinha começou a fabricar computadores – muito antes da turma do reitor Zeferino Vaz, aqui na Unicamp. Aos 19, já era empresário, sócio de um bando de suspeitos barbudos e cabeludos. Ano passado, faturou 32 bilhões – de dólares. A senhora sabe o que significa isso em reais? Todos, dona Maria, todos!

Aí, o mundo inteiro, acostumado a telégrafo, código Morse, bumbo, fumaça branca e preta (não viu no Vaticano, dona Maria?), fios e cabos elétricos, telefone, correios, cartas, bandeirolas, latinhas de massa de tomate com barabante, aceno de mão (quer coisa mais linda do que receber um aceno de mão, minha senhora das Portas?) – esse mesmo mundo passou a ter de ouvir Windows, DOS, PC (não o Farias), basic, mause, soft, hardevare, scroll rock, romi peige, becape, caps lock, ctrl t, delete, peige daun… Língua de doido, essa. Foi em Harvard que ele aprendeu isso? E o pessoal de Harvard sabe?

E 97% de nós, brasileiros, estamos nas mãos do seu filho, cara senhora!

Sei que junto com sua nora, a Melinda, ele fundou uma organização para dar dinheiro a iniciativas filantrópicas nas áreas de saúde e educação, e especialmente para promover a pesquisa sobre a AIDS e outras doenças que atingem os países mais pobres. Tudo isso é muito meritório, dona Maria. Juro que ele vai pro céu. Já o Bush e dona Izalene, eu não sei.

Está certo: ele recebeu o título de ”Cavaleiro do Império Britânico” da rainha Elizabeth, por sua ajuda ao mundo corporativo da Grã-Bretanha e por seu trabalho contra a pobreza. Os Beatles também ganharam.

Sei, também, que ele e Belinda já lhe deram três netinhos. Um deles até ganhou uma fortuna, para se virar quando for grande.

Acontece, dona Maria Portões, que, de repente, começou a aparecer na tela do computador que seu rebento fez pra mim uma mensagem inadmissível, um insulto, que, me desculpe pela expressão, enche o saco, dona Maria! Cada vez que essa praga aparece, eu xingo a senhora. Sem querer, mas xingo; xingo até com “ch”.  Apaga tudo o que eu escrevia, às vezes crônicas e reortagens inteiras, fazendo eu trabalhar dobrado, triplado, às vezes, dopado.

A mensagem desse queridinho da mamãe (com tanto dinheiro assim, ele é queridinho até do Fidel Castro) pede para que eu mande para a fábrica do pestinha um tal de “relatório de erros”. Com duas opções: “Enviar” e “Não enviar”. Alguns especialistas-masoquistas nesta obra do seu garoto recomendam “não enviar”; outros dizem para “enviar”. Sabe qual a diferença, dona Maria Portões? Nenhuma! E tudo se apaga.

Avise seu filho, dona Maria. Se um dia o recado vier trocado e as sugestões forem “Enfiar” ou “Não enfiar”, eu “ENFIO!!!”. Aonde? Ele sabe.

Pregado no poste: “Dona Maria Portões é mãe do Bill Gates”.

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