Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Presentes de Páscoa

Começou no Rio de Janeiro. (É sempre lá que tudo começa.). O sonho de alguns pais é colocar aparelhos na boca dos filhos, para que os rebentos, muito justo, fiquem com os dentes afilados, principalmente os dois dentões da frente, parecendo coelhinhos – como esses que hoje estão por aí a distribuir ovos de chocolate. De repente, as meninhas ficaram todas com as boca iguais, saídas da mesma linha de montagem. Tal como as Cicarellis da vida, que devem colocar botox, silicone, sei lá, nos lábios – todas com o mesmo lábio.

Como os óculos, no passado, esses aparelhos eram rejeitados pela molecadinha. É que os colegas chamavam de “quatro olho” quem usava óculos – às vezes cinco: dois de carne, dois de vidro e um ‘fidido’… A meninada punha o aparelhinho e… pronto: “Tá de cabresto!?” E quando enganchava, no primeiro beijo do parceiro também dentuço? Vi casaizinhos de adolescentes chegarem como xifópagos nos consultórios dos legendários dentistas campineiros Moacyr Pazinato (Galeria Trabulsi), Ariovaldo Pirotello (Glicério) e Theóphilo Ribeiro de Camargo (José Paulino). Não me lembro se no da Alélia Maia e do Lalo também vi.

Até pouco tempo, os dentes-padrão estiveram na moda. Adultos também usam os tais aparelhos ortodônticos – uns saem da boca, dão uma volta pela nuca e voltam para a boca, como aqueles microfones de pescoço da Sandy e do Júnior. Há garotas e ‘otos’ que andam pela rua com um daqueles, de mentirinha. Nestes temos de robocop, nem fica estranho.

Mas se você pensa em colocar o tal cabresto nos filhos e ‘ilhas’, cuidado. É capaz de haver choradeira, como nos velhos tempos. É que ‘Ronaldinho Gaúcho e seus dentinhos avançados’ já ditam a moda. O carisma do rapaz – campeão, humilde e competente – já contagia todas as idades. E pensar que o Maurício de Souza nunca conseguiu fazer da sua impagável Mônica uma heroína capaz de valorizar sua dentuça… E que nenhuma criança pensou no coelho dela para pedir ovos de chocolate.

Sei não, mas assim como o Dia dos Pais despenca no ranking do comércio de datas comemorativas, os ovos já dividem o presente de Páscoa com outros produtos e até atitudes. Engorda, você entende? Na cidade de Lavínia, por exemplo, dois gêmeos idênticos dividiam a mesma cela. Na hora de soltar o que merecia indulto de Páscoa, eles enganaram o carcereiro e o preso errado fugiu. O que ficou justificou: “Dei um presente de Páscoa para o meu irmão, coitado. Mas ele volta, doutor, pode crer que ele volta. Lá fora, a coisa tá feia!”

No Rio Grande do Sul, Solange Bang (!), 47 anos, pensou ter ganhado um belo presente de Páscoa da Previdência gaúcha, pensão vitalícia de R$ 5.700,00, por causa da morte do marido, Joaquim de Tal, 91 anos. Estavam casados havia seis meses. Quando ela pleiteou pensão integral, de 10 mil e tanto, desconfiaram. Perdeu. “Casamento-negócio não existe”, disse o juiz. Essa é a Saolange Bang ou a Solange Bang-Bang?

Em compensação, nossos ministros do Superior Tribunal de Justiça também querem fatiota nova de presente. Ouçam o que disse o presidente daquela Corte, o magistrado magistral Edson Vidigal. Ouça bem, porque quem vai pagar a conta somos nós: “A toga que usamos está mais para concurso de fantasia do Hotel Glória, no Rio. É uma vestimenta mais para Clóvis Bornay, do que para magistrado.”. Bem… Deixe-me ficar quieto, se não…

O filho de uma amiga aí de Campinas deu a ela, de presente de Páscoa, aquele livro: “Mulheres são de Vênus; homens são de Marte”. “É pra lá que eu vou!”, ela exclamou para o garoto embasbacado.

Pregado no poste: “Boa Páscoa, campineiros!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *