Por trás das asas – l
Deve ser espetacular esse livro da jornalista Marta Fontenele (muito prazer) e do fotógrafo Gilberto De Biasi (há quanto tempo!), contando e exibindo 40 anos da história do nosso Viracopos. Tudo o que aconteceu ali de importante eles revelam. Mas e o que ninguém pôde mostrar? O que eu vi conto agora, mas sem fotografias, porque quando tudo isso aconteceu, mestre De Baisi não estava lá. Amanhã tem mais.
- Quatro da manhã de um dia de 1973. O avião que trazia o Santos da Europa se atrasou. Fiquei papeando com a Rosemeire Cholby do Nascimento no saguão. Trazia Kelly Cristina no colo e me contou: “O Pelé não vai jogar a Copa na Alemanha.”. Primeira página do Estadão no dia seguinte.
- Os melhores restaurantes de Campinas ficavam ali. O da Baiana, no caminho de Viracopos; o do Apostol Tako, lá dentro. Numa reportagem de mil linhas sobre o aeroporto, Roberto Godoy, apreciador das melhores casas de pasto do Ocidente, escreveu: “Apostol Tako é dono do único restaurante do mundo que tem um aeroporto na porta…”.
- Alemão é o mais crédulo dos povos. Você fala, ele acredita. Na máquina, ele tem fé. Nosso divertimento era ver o pouso dos Boeing 707 da Lufthansa nas tardes de sábado. O piloto confiava nas coordenadas da torre, sempre brasileiramente “mais ou menos”, e em vez de pousar, despencava na pista. Dava para vê-lo esmurrar os céus dentro da cabine.
- A maior tragédia, em 1961. Um Comet da Aerolíneas Argentinas decola e cai no mato. Morre todo mundo. O querido Benedito de Oliveira Barbosa, correspondente de um jornal paulistano, é o primeiro a chegar. Empolga-se com a cobertura e as fotos que fazia. Seu jornal foi o único que não deu as fotos. No dia seguinte, ele não trabalhava mais lá.
- O jornalista Hugo Gallo Mantelato descobre, com seu faro insuperável, a atriz Kim Novak, no auge, fazendo hora no saguão, durante uma escala. O fotógrafo (quem era, Gallo?), percebe pelo filtro da máquina e comenta: “Gallo, por causa desse vestido de malha, dá para ver que ela está sem calcinha, Gallo! Sem sutiã, Gallo! Os pêl… Gallo…!” Ela sorri e desmonta os dois: “Senhores jornalistas, morei seis anos em Lisboa. Vamos tomar um café?” E depois, Gallo?
Pregado no poste: “Seo Toninho vai plantar um Alecrim no Largo da Catedral?”