Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Ponte maior

Não é a “macaca”, mas mete medo em todos os brasileiros. E nos bugrinos também. Cômico, não fosse trágico. Com essa mania de só ver e ouvir na televisão e no rádio aquilo que ninguém ouve nem vê, sempre na contramão dos “campeões de audiência”, vejo e ouço cada uma!

Pior do que a crise asiática; mais tenebroso do que a epidemia de cólera; ameaçador como os furacões do Caribe; só não é mais triste do que a indigência mental e o oportunismo estampado a cada instante no horário político: é o nível baixíssimo do conhecimento de estudantes que não têm, ao menos, vergonha de exibir sua extrema ignorância em programas de televisão. Ruy Barbosa foi profético: “De tanto ver triunfar as nulidades…”. Triunfaram.

Até a Adriane Galisteu ficou estarrecida. Por aí, já se percebe como a situação está feia. Aconteceu quarta-feira, perto da hora do almoço. Enquanto aquele meu filho corinthiano (Anda in-su-por-tá-vel ultimamente, Ucha. O que eu faço?), não terminava de fazer a macarronada, inventei de ver um programa na tal de “Emitiví” – é assim que ele pronuncia o nome dessa joça, embora na tela aparecessem só três letras: MTV. Bem feito, quem mandou trocar o jornal da turma da Mara Rúbia por esse abacaxi?  Pelo menos, ninguém chama a EPTV de “Ipitiví”…

A “viúva que não foi” apresentava um programa de perguntas e respostas dirigidas a um bando de garotos e garotas. Disputa acirrada entre as equipes. Enquanto as questões exigiam conhecimentos aprofundados sobre a vida e a obra da mãe do vizinho do guitarrista do Aerosmith, por exemplo, não erravam uma. “Quem é o primo do carpinteiro que esculpiu a baqueta do baterista da banda do raio que parta?”. “Como se chama a rua principal da cidade em que S.Hall-não-sei-das-quantas compôs a primeira versão de Morfina com chocolate?”. (Morfina com chocolate?! Quase estragam meu almoço. Dispensei o sorvete; era de chocolate.). “Qual o nome do médico-veterinário da cachorra da Madona? E do pediatra da Lourdes Maria?”. Se ao menos perguntassem o nome do pediatra da filha da Xuxa… Mas eu também não saberia responder. Onde mora Alby, amigo da cantora Linda Perry, que ela conheceu em sua excursão à Itália? Incrível, a meninada sabe todas as respostas sobre esses assuntos que revelam os píncaros do conhecimento de nossos estudantes. Com eles, o Brasil será, mesmo, o “país do futuro”. Futuro do passado.

Foi aí que uma menina distraída decidiu mudar os temas das perguntas, que versavam sobre música pop, cinema, metaleiros, o diabo. E escolheu “Geografia”. Tomou uma vaia da equipe. Onde já se viu? Geografia? Entregaram um envelope com a pergunta na mão da ex-futura senhora Ayrton Sena. Que cena! A atual futura mulher do publicitário Roberto Justus, recém-separada de seu ex-futuro marido Júlio Lopes, leu: “Qual a maior ponte do Brasil – Golden Gate, Rio-Netrói ou a ponte de safena?”. A imbecil nem hesitou: “É a ponte de safena!”.

A indignação não é com o fato de essa coitada não saber qual é a maior ponte do Brasil. Isso pouco importa. Pior é ver que uma estudante pré-universitária não faz a menor idéia do que seja uma ponte de safena, uma safena e, talvez, nem uma ponte.

Pregado no poste: “Macaca, a maior ponte do Brasil. Todo mundo passa por cima”.

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