Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Perdemos

Você se lembra de Campinas? Aquela cidade invejável e invejada por todos, pela qualidade de vida dos seus moradores, pela excelência de seus institutos de pesquisa, pelas universidades, pela multiplicidade médico-hospitalar. Claro que você se lembra: o mundo inteiro invejava Campinas. Era o único ponto iluminado no mapa do Brasil, um país de última, vizinho desta feliz cidade por todos os lados. Agora, em vez de invejá-la, o mundo ri dela, porque os campineiros de verdade choram. De vergonha.

Perdemos todos. A cidade perdeu seu amante; os jovens, alguém em quem (ainda) podiam acreditar; os políticos, alguém muito raro num meio desacreditado (e repudiado) no País inteiro; os historiadores, o pesquisador que fugia da prancheta de arquiteto para desvendar novos caminhos que levam às nossas origens; a comunidade, o idealista que sonhava o mesmo sonho da gente humilde de ser, também, cidadã em sua própria cidade; os especuladores da selva de concreto, um adversário digno, leal, que os ensinou a respeitar nossa paisagem e a nossa história; os radicais, o contraponto do bom senso; sua militância, um emblema respeitado e um estandarte admirado na situação e na oposição; os de alma grande e mente aberta, um aliado.

Era o nosso prefeito, eleito pela maioria da nossa gente. Orgulhoso, mas responsável, por ter chegado ao cargo de condutor da terra que tanto amou e, por isso, queria vê-la cada vez mais bonita. E, a um tempo, humilde, a ponto de reconhecer, ainda há pouco, que em oito meses de trabalho, vinha acertando no atacado, mas errando no varejo. Essa lição de humildade, de tão inédita entre seus pares de todo o Brasil, virou notícia de primeira página. Espantoso um político reconhecer os próprios erros. Ele os reconheceu e subiu no conceito da opinião pública. Afinal, ninguém elegeu um super-homem. Na última eleição, o que todos queriam à frente da cidade era apenas um homem capaz, sensível e dedicado à missão a que se propôs, sujeito aos erros e acertos de todo ser humano. Queriam alguém que, se errasse, não o fizesse por má-fé, como estamos acostumados a ver. E cansados de suportar.

Um homem assim no Poder é uma raridade hoje em dia. Vivemos tempos tão sinistros, que a sensibilidade, a competência, a humildade e a boa vontade incomodam, desmascaram os mal-intencionados e ferem interesses dos que não têm os mesmos interesses da sociedade. Por isso, perdemos seo Toninho.

Perdemos para a pior espécie dos que nos cercam: os que não têm nada a perder.

Pregado no poste: “Por quê?”

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