Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Pequenas causas, grandes efeitos

Veja que em meio aos anos setentas, a soja se espalhou pelo mundo. Assim, de repente, sem pedir licença, mas com licença da expressão, começou o “boom da soja”. Causa: a Europa, de Oeste a Leste, alimentava seus rebanhos com boa dose de farinha de peixe na ração. Eram bilhões de peixes em cardumes do litoral do Peru. Um dia, talvez um El Niño debandou aqueles cardumes. Sumiram! A salvação foi a soja. Até o Brasil plantou. A cultura iniciada em Santa Rosa, terra da Xuxa, virou vedete da pauta de exportações — Santa Rosa deu ao Brasil duas vedetes…

Aí, começa a remoer a filosofia de botequim (botequim de academia, bem entendido). Se grandes conseqüências têm pequenas causas, nossa história tem uma fila interessante. Por exemplo: o jogador Careca, dono do Campinas, Renato Russo, Torben Grael, Taumaturgo Ferreira, Arnaldo Antunes, Ayrton Senna, Carla Camuratti, Daryl Hanna, Diego Maradona, Tim Burton e Sean Penn não teriam nascido em 1960, se seus pais tivessem experimentado uma novidade lançada naquele ano: a pílula.

Se a princesa Isabel não tivesse assinado a Lei Áurea a 13 de maio, em plena safra do café, talvez a monarquia durasse mais um pouco, mas libertar os escravos na hora de colher a única riqueza do Império enfureceu os homens que sustentavam o poder. Certo?

Mais? Um quarto de século antes, estourou a Guerra do Paraguai. A gota d’água, fora os interesses britânicos nestas aldeias, foi a recusa da mesma princesa a se casar com o marechal Solano Lopes. Ela foi do conde d’Eu.

A República derrubou a Monarquia. Primeira conseqüência? O jogo do bicho. Tudo porque o barão de Drummond tinha ajuda da Coroa para administrar o Zoológico do Rio de Janeiro. Sem a Coroa, o barão cobrava ingresso, que valia um bicho, e ao fim do dia, sorteava. Mas não adiantou nada a República fugir do bicho — o bicho nunca fugiu da República. Perguntem ao tal de Waldomiro Diniz e à turma dele.

Ah! Mais duas grandes conseqüências, mas que tiveram grandes causas. Alberto Santos Dumont e Júlio de Mesquita estudaram no nosso Colégio Estadual Culto à Ciência. Não fosse nossa escola maior, jamais teríamos o “Estadão” nem o avião. Já pensou que mundo devagar seria este?

Pregado no poste: “O Lula não era contra a reeleição?”

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