Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Parente por parente…

“Você sabe com  quem está falando?” Trabalhadores humildes são os que mais sofrem com a prepotência dos poderosos, principalmente dos parentes do poderoso. Pior do que poderoso arrogante é o parente dele.

Duvida? Então, pergunte ao guarda de trânsito, ao servidor público que está do outro lado do guichê, à vendedora da loja chique, aos marcadores de passagens de avião, ao porteiro das cadeiras cativas nos campos de futebol, aos taxistas que têm o azar de pegar madames de ovo atravessado… (Uma vez, um deles levava ilustre e mal-educada senhora. No fim da corrida, dinheiro na mão, disparou: “Que cheiro de mertiolato… A senhora está machucada?” Ela desceu, batendo a porta e resmungando: “Onde já se viu, chamar um legítimo L’Origan de mertiolato!”).

Mas a melhor resposta foi dada exatamente no quilômetro 99 da Via Anhangüera, há uns trinta anos. Ali ficava o posto da Polícia Rodoviária, antes de essa magnífica corporação ter sido contaminada por policiais que não eram especialistas em educação, gentileza, competência, espírito público e, verdade seja dita, em pilotar as mágicas motos Harley Davidson. Hoje, dizem, a Polícia Rodoviária já está de volta aos velhos e bons tempos – dentro do jaquetão de couro, sob o quépe ornado pela águia da Harley e atrás dos óculos raiban, há gente em quem se pode confiar. São os herdeiros do comandante Carlos Miranda, o “Vigilante Rodoviário”, lembra?

No posto do km 99, ficavam os comandados do coronel Bernardini. Tudo gente boa. Entre eles, o incrível e querido soldado Alita. (O coronel não se conformava: “Eu comando a guarnição, faço curso de especialização nos Estados Unidos e ninguém fala nada. O Alita volta das férias e é notícia de jornal; com fotografia e tudo!) Alita era a cara do Oscarito, a simpatia do Grande Otelo, a simplicidade do Mazaropi e a esperteza do Zé Trindade.

Numa blitz, Alita parou um Galaxie, que voava pela estrada. O motorista, cheio de nove horas, já desceu todo posudo:

— Você conhece o coronel Bernardini? Então, ele é meu primo! Você vai me multar?

— Nossa! O coronel Bernardini é seu primo? E eu, o senhor sabe quem eu sou?

— Eu não, quem é você?

— Eu sou filho de Deus!

Pregado no poste: “Como era bom viver em Campinas!”

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