Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Parece?

Já faz grande sucesso em Ribeirão Preto a moda de pagar o dízimo com cartão de crédito na igreja católica. Domingo passado, o padre Chicão Zanardo Moussa, pároco da Catedral de São Sebastião, benzeu a maquininha e mandou ver. Pronto, os ladrões não terão como arrombar os cofres de ferro fechados a cadeado. O templo tem até contador — e ele diz que desconhece similar no Estado de São Paulo. A CNBB fala que desconhece outra no Brasil.

Mas a maqininha não substituirá a sacolinha. “Na missa, não! Ordena o padre. O dízimo terá de ser pago na sacristia e no horário comercial”. Viram que chique? Igreja que aceita cartão de crédito tem contador e horário comercial. Ah! Pode parcelar, viu? Mas não perguntaram se dão recibo nem se o ‘leão’ aceita abater do Imposto de Renda. Visa e Mastercard já aderiram ao empreendimento. Não vá à santa missa sem eles, afinal, já se pode dizer que a oportunidade de pagar o dízimo com cartão de crédito não tem preço.

(Este país é uma festa. Existe um, na Europa, se não me engano a civilizadíssima e impecável Áustria, que desconta o dízimo direto no holerite dos trabalhadores. Assim, não há sonegação, desvio de verba nem calote. Quando é contratado por uma empresa, o funcionário declara sua religião e, automaticamente, o dízimo vai para a igreja dele. Como lá se leva a sério essa história de Igreja separada do Estado, por causa desse vínculo, nenhuma igreja de nenhuma religião pode pedir dinheiro ao governo. O que é muito certo. Penso que se essa prática for adotada em determinado país, a população vai se declarar atéia do dia para a noite. Você não acha?)

Originalíssima a atitude do padre Chicão. Logo, logo, seitas caça-níqueis vão imitá-lo. Teimam em enfiar o dízimo no saco, porque não pensaram em aproveitar os guichês de cinemas que transformam em templo, para arrecadar os óbolos. Poderiam também fazer como nos estádios de futebol: no fim da sessão, informar público e renda do espetáculo. E prestar contas ao fisco.

Parece banco, mas não é.

Pregado no poste: “Essa seita aceita cheque?”

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