Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Parece mentira

Ontem foi o dia da mentira no Brasil. Em Campinas, também, claro, desde que a gente desta nossa cidade se viu forçada a renunciar à sua cidadania ímpar, ao seu orgulho lendário, à sua tradição de fazer, ser e estar acima da mediocridade dos nossos vizinhos. Foi a melhor cidade enquanto aqui só nasciam campineiros e só chegavam campineiros de outras terras para engrandecer a nossa. Estamos invadidos por forasteiros inúteis – depredaram o que construímos; corromperam nossas metas; apagaram nossos sorrisos; roubaram nossos sonhos; proibiram nossa alegria e mataram nossas esperanças. Nos querem iguais a eles. E a ela.
Agora, vivemos sitiados por mentiras. Como esse país, que nem tinha galinhas e hoje reúne o maior plantel dessas aves em todo o mundo. Não tinha bois e abriga o maior rebanho da Terra. Também não possuía laranjas, mas já é o maior exportador mundial de sucos. Cana? Também não tinha. E agora ninguém faz mais açúcar e álcool do que o Brasil. E mais barato. Café? Nem para remédio. Porém, há mais de cem anos, é uma das marcas brasileiras mais fortes lá fora. Soja? Já é a mais barata, logo, será a mais abundante. Falta pouco. Sapatos – se deixarem, ninguém dará um passo sem pisar no que é brasileiro.
Ora, dirão: “Então, esses nossos vizinhos não são tão… tão… assim?!” São ótimos. O que estraga sua vida, seus anseios e sua felicidade são seus governantes. Autoridade brasileira é o que há de pior na espécie – que me desculpem os que tentam ser o melhor. Da mais banal das atividades às mais importantes. Trânsito congestionado, mas nenhum acidente ou enchente pela frente. Batata! Há um guarda “dirigindo” o trânsito. Tire o guarda de lá e tudo fluirá na paz do Senhor. O jogo de futebol estava uma beleza, um balé, daqueles que hoje só se exibem na periferia. Quer acabar com a festa? Ponha um árbitro para apitar o jogo. É capaz de acabar em morte.
Por falar em futebol, até o da nossa Campinas ficou igual ao dos outros. Antes, quando a Ponte ia bem, o Guarani ia melhor. Quando o Guarani ia mal, a Ponte ia pior… Hoje, estão os dois na pior, um despencando no abismo e o outro pronto para cair. Parece mentira: o Guarani caiu pela primeira vez quando completava 90 anos e meio século de Primeira Divisão. E está para ser rebaixado de novo, agora do Rio-São Paulo, no momento em que celebra 91 anos. Se ganhar o dérbi – o que nunca foi difícil – é capaz de levar a Ponte junto.
Pregado no poste: ”Em Brasília, todo dia é dia da mentira”

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