Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2000Crônicas

Pacto de sangue e gravata

Você se lembra daquela história do gajo que arrumou um jeito de escapar do serviço militar? Aquele mesmo. Cortou o dedo indicador, o do gatilho, e acabou dispensado porque tinha pé chato. Dois ex-alunos do “Culto à Ciência” viveram experiência semelhante e quem conta é o Guilherme Nucci, hoje embaixador de Campinas em Vitória, Espírito Santo:

“Eu não vou dizer aqui o nome desses dois ‘cultoacientes’, porque eles talvez eles não gostem. Um deles, aliás, eu tenho certeza de que não gostaria, mesmo morando há anos fora do Brasil. O primeiro estava com uma hepatite brava. E com hepatite, naquela época, as pessoas ficavam dois meses em repouso. Lembram-se disso? O segundo, lá por setembro, já sabia que ia levar pau. Não tinha mais jeito. E o medo do pai? Fazer o quê? Teve uma idéia brilhante: pegar hepatite. Eu, muito amigo do primeiro, cheguei um dia em sua casa exatamente no momento em que os dois estavam fazendo uma ‘transfusão de sangue’: haviam cortado cada um a ponta do dedo indicador e esfregavam um dedo no outro. O segundo levou mesmo pau e não sei o que o pai dele fez. Só sei que não conseguiu pegar a hepatite…”

E assim, a gravata foi abolida do traje obrigatório dos alunos daquele templo.Um dos protagonistas, ou testemunha da façanha, é o Eduardo C. Luccas: “Esta é digna do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País) do Sérgio Porto. Foi em 1958 ou 1959. Nesse tempo, o traje era paletó e gravata, e fazia um calor para El Niño nenhum botar defeito. Foi feito um abaixo-assinado para se abolir o uso de tal indumentária e a decisão do Popof Telêmaco Paioli Melges) ou Cridão (Euclides Pinto da Rocha) foi maravilhosa! ‘Está abolido o uso da gravata, mas vocês terão de vir de paletó e colarinho fechado…’”

E depois daquele dia, aluno que aparecia com colarinho aberto ouvia da inspetora de alunos Gladys Pierre: “Está com a camisa aberta por quê? Vai dar de mamar?”.

Pregado no poste: “Dia 18 está chegando. Vamos àquele templo, lembrar daquele templo!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *