Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2000Crônicas

Ouro verde nas livrarias

Finalmente, um livro para ser bebido, em goles lentos, de páginas fumegantes, aromatizadas, saborosíssimas. São goles de história, de uma das mais belas que a humanidade viveu. E vive. Sinta “Aroma de café”, que acaba de chegar aos balcões das livrarias do Brasil e que merece ser exposto e vendido nas melhores cafeterias do mundo, como o Regina, aqui, e o Café de Paris, lá, de onde Camille des Moulins saiu alegre e disposto, depois de uma caneca de café, para ajudar na tomada da Bastilha e mudar a história do homem na Terra, ao som da Marselhesa.

“Aroma de café” é uma peça com a graça de estilo de Luís Norberto Pascoal, que pensa ter produzido apenas “um guia prático para apreciadores de café”, mas fez uma obra de arte. Tudo ali está quentinho, jamais requentado, com o frescor das melhores variedades e com o sabor inebriante da melhor bebida, como o café “passado na hora”, por dona Odete Stein, na paradisíaca Fazenda Recreio, dela e do seu Joaquim Carvalho Dias, há mais de um século nas mãos abençoadas pelo trabalho duro da mesma família.

Claro, na lista de agradecimentos, o Luís Noberto não se esqueceu do doutor Alcides Carvalho, grande mestre, salvador e recriador da mais bela paisagem agrícola exibida no cenário brasileiro – o cafezal. Nada comove mais do que um cafezal em flor. É o maior espetáculo da natureza. Se você nunca viu, fique atento, porque no início de setembro é tempo de florada, é Deus presenteando a terra e os homens da terra com as flores do café – prenúncio dos frutos que nos brindarão com uma bebida sagrada.

“Aroma de café” conta e mostra tudo isso e tudo o mais. São mil anos de vida. Os homens nunca mais foram os mesmos, desde que aquele monge vagou por pastagens da Etiópia e observou um rebanho de cabras. Percebeu nelas uma alegria jamais vista – elas comiam as cerejas de um cafeeiro maduro, que vicejava na região de Kaffa – e ficavam dispostas para caminhar quilômetros e escalar montanhas. “O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério. Antes da oração noturna, resolveu experimentar o novo elixir. Seu corpo foi tomada de uma sensação de júbilo e motivação, e o monge orou durante toda a noite”. Naquele dia, Deus deu ao homem sua mais terna expressão: o sorriso.

Já li e reli Érico Veríssimo contar sobre o vinho do Porto, em seu magnífico “Solo de Clarineta”; vi a emoção do querido José Hamilton Ribeiro diante da “Gota de Sol”, como ele define a laranja; qualquer dia, Geraldo Hasse, outro mestre na arte da reportagem, deve nos desvendar os mistérios da soja. São obras magníficas, imperdíveis para quem gosta de conhecer o que tem à mesa. Mas “Aroma de café” não é um livro, é uma bíblia, para quem gosta de conhecer o que existe no altar da natureza. Porque o café vale uma oração à alegria de viver. Se o vinho é o sangue de Cristo, o café é alma dos homens de boa vontade.

Pregado no poste: “Mais uma xicrinha?”

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