Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

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Você ouve rádio? É uma delícia. Muitas emissoras estão desaparecendo, vítimas da exploração da “fé” eletrônica, mas ainda há verdadeiras heroínas da resistência no ar, prestando um serviço público inigualável. Rádio é o jornal do analfabeto, a diversão dos solitários, fertilizante da imaginação. O rádio é um companheirão: distrai, diverte, educa, informa, sensibiliza… Todas as estações se identificam por prefixos e quase todas, por slogans que marcam sua personalidade perante o ouvinte.
Não sei se você se lembra, mas aqui em Campinas era assim: a nossa querida Rádio Brasil se apresentava como “a que não perde uma, porque realmente está em todas” ou “Brasil, a Campeoníssima”. Tempos em que ela mantinha até um auditório, na Galeria Trabulsi, na Barão de Jaguara. E a Educadora, antiga PRC-9? Desde quando seus estúdios ficavam no velho Cine Rádio, depois Cine Brasília, depois Cine Bristol e hoje… (deixa pra lá), era “a mais popular” ou “a mais ligada”. A Cultura, do seo Abel, sempre na Benjamim Constant, era “a mais ouvida” e tinha mais dois “cartões” de visita: “Se é preciso ter Cultura, Campinas tem” ou “Se você está com a gente, você está na quente”. Quando havia só essas três, em ondas médias (a AM de hoje), a Rádio Andorinha FM punha no ar uma “provocação “ do Orlindo Marçal: “A melhor ouvida”. Mais recente, a Central se considera “A mais querida de Campinas”.
Em São Paulo e no Rio, disputava-se uma guerra de slogans. A Panamericana era “A emissora dos esportes”. Agora, é “Jovem Pan, a rádio”. A Excelsior, hoje CBN, tinha “O maior auditório do Brasil, uma poltrona em cada lar”. Depois virou “A máquina do som”. Agora, como CBN, é “A rádio que toca notícia”. A Rádio Mulher é “Uma voz que vai longe”. A Bandeirantes sempre foi “A mais popular emissora paulista” e a Record, “A maior” (quando era uma estação de rádio). A Gazeta se orgulhava: “A emissora de elite”.
Mais? Vamos lá. A Tupi, nos tempos das Associadas, impunha: “A mais poderosa emissora paulista”. A Rádio América, até hoje, é “A emissora da família” e a finada Difusora, filial da Tupi, “A notícia a todo instante”. Aqui perto, em Jundiaí, a Santos Dumont desafiava a rival: “A única que pega fora da cidade”. Em Marília, a Rádio Dirceu diz que é “Um caso de amor com a cidade”. De Presidente Prudente, vinha a PRI-5, “A voz do sertão” e aqui em Ribeirão Preto, temos a CMN, “A rádio na velocidade da notícia”.
No Rio, a Rádio Tamoio era “O cacique no ar”. E a Mundial, lembra? “Radio ativa…” Enquanto a Globo de São Paulo “Só dá bola pra você”, a do Rio garante: “Tá na Globo, tá legal…”. A Gaúcha, de Porto Alegre, é “A fonte da informação”. Bela rádio, essa. Havia, também, as rádios de brincadeira, como a antológica “PRK-30”, berço do Chico Anysio, na Mayrink Veiga, lá no Rio também. Aqui em São Paulo, o Estevam Sangirardi criou, na Jovem Pan, a inacreditável “Difusora de Camanducaia, falando para a cidade e cochichando para o interior”. Criou também a “Rádio Cotia, a voz do Ceasa” e a “Clube de Piapara, a que pia mas não pára”.
Agora, pretensão, mesmo, tem a Rádio Jornal do Comércio do Recife, Pernambuco, “Falando para o Brasil e para o muuuuunnnnndo; aqui, onde os rios Capiberibe e Beberibe se juntam e formam o Oceano Atlântico!”. (Esse berço do Atlântico fica por minha conta).
Pregado no poste: “Oba! Hoje tem Terra da Gente. Vale a pena ligar a TV. Depois, pode desligar.”

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