Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Os três amigos

Como estudante de História, aprendi que desde que o mundo é mundo, a humanidade vive atrelada a uma divisão imutável. No princípio, eram o chefe supremo e sua corte, os homens livres e os escravos.

Nos dias de hoje, temos o poder nas mãos dos políticos, que formam a classe dirigente, os homens livres, donos do capital, e os trabalhadores. Estrutura mais maleável, mas persistente.

Nada mudou, em parte alguma, em regime algum, de norte a sul, de leste a oeste, de lá e de cá da extinta “cortina de ferro”. Há os que mandam, dominam; os que sustentam os dominadores, para sobreviver livres, e os que são obrigados a trabalhar pelos dois e pela simples sobrevivência.

O Brasil, para não fugir à regra, nunca deixou de ser assim, enquanto colônia, império ou república – nova ou velha, das “Alagoas” ou do “café com leite”.

Um dia, este País teve um candidato à Presidência da República que iniciou uma pregação nova. Não, ele não se propunha a reinventar a roda nem a acabar com essa divisão. Mas a proposta do homem era mexer com os interesses das partes dessa divisão.

Em primeiro lugar, chamou os políticos, os donos do capital e os trabalhadores – toda a sociedade, enfim – e expôs seu plano de modernização do País. Convenceu. Elegeram o homem.

Assumiu o poder, mentindo e traindo os eleitores, com o confisco das aplicações financeiras. Mas tudo bem (como se diz no Brasil), tudo vale para acabar coma inflação com a única bala que ele dizia ter na “agulha” do revólver antiinflacionário.

Começou a governar. Convocou os políticos e comunicou que os cofres do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal estavam fechados. Acabara a mamata de usar o dinheiro do Estado em benefício de currais eleitorais e afilhados políticos. Mais: os políticos ficaram sabendo que as estatais (maior cabide de empregos de inúteis deste País) seriam privatizadas, para acabar com a sangria do dinheiro dos nossos impostos. Foi o primeiro golpe na classe dirigente, a dos políticos.

Em seguida, ele chamou os empresários, os donos do capital, os tais “homens livres” de antanho. E falou: “Daqui para a frente, não há mais recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (o hospital BNDES) para socorrer a incompetência administrativa e a patifaria no comando de suas empresas”. Desmoralizou diante da opinião pública as multinacionais mais poderosas, com esta denúncia: “Vocês são fabricantes de verdadeiras carroças”. E decretou: “Vou abrir o mercado para a importação; se vocês quiserem sobreviver, tratem de ser competentes”.

Por último, chamou os representantes dos trabalhadores, os donos do terceiro cartório social, o do sindicalismo, e avisou que estava decidido o fim do estelionato ou do escroque  que significa o imposto sindical (aquele dinheiro que o governo tira da gente todo mês de março e distribui entre os sindicatos, sem ao menos perguntar se nós queremos ou não ser sindicalizados). O novo presidente informou que se os sindicatos quiserem ser fortes e livres, que andem sozinhos, sem a tutela do governo e da sociedade.

Foi o suficiente para que os três cartórios se unissem, encontrassem um motivo justo (a corrupção do subchefe da quadrilha), atirassem nele e, assim, derrubaram o chefe.

Ao longo da história do Brasil, todos os nossos governos tiveram seus esquemas de corrupção e seus chefes. Com a conivência ou não do chefe do governo. Uma coisa eu garanto: se o chefe da quadrilha não tivesse mexido com o interesse dos donos do cartório, o subchefe PC estaria nadando de braçada até hoje, distribuindo favores para todos os “cartórios” do Brasil, como ficou provado na CPI. É ou não é?

Pregado no poste: Se vier a monarquia, quem vai pagar as contas da corte?

 

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