Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Os posudos

(Fim do mundo. Um jornal deu esta manchete: “S&P atribui rating preliminar para operação de FIDC da Cataguazes-Leopoldina.”. Você entendeu? Nem minha mãe, que já morreu.)

Desculpem-me pelo silêncio, mas dá para contar só os milagres. O elemento em questão, filho de um simpaticíssimo balconista, deve ter inspirado Bráulio Pedroso, Cassiano Gabus Mendes e Lima Duarte a criar Beto Rockfeller. Antes da fama, era auxiliar de escritório no departamento de pessoal de uma firma estrangeira. Já punha banca. Um amigo foi até lá, “fazer ficha” para pedir emprego, e o dito cujo, como se fosse dono da empresa, despejou: “Não, de químico, ‘eu’ não preciso no momento. ‘Eu’ quero um engenheiro mecânico; mas deixe seus dados aí e cima.”.

Depois de um curso técnico, ele conseguiu uma boquinha para ir aos Estados Unidos. Tempo da guerra do Vietnam – todo mundo fugindo de lá e ele querendo ir. Quase foi – pra guerra. Numa tarde, passando na frente de uma casa de shows, viu Johnny Mathis chegar para um ensaio. Implorou para que tirassem uma foto juntos. O porteiro do clube bateu a chapa, ambos, posudo e cantor, de costas para um casario que ficava do outro lado da rua. Mandou dezenas de cópias para os conhecidos de Campinas: “Eu e Johnny Mathis na porta da minha casa!”

Outro foi aquele que espalhou para todo mundo que era amigo da Sandra Bréa, no auge das pornochanchadas e da personagem Telma, filha do coronel Odorico, na novela “O Bem Amado”. Contou que ela viria a Campinas passar o fim-de-semana com ele num hotel-fazenda, acho que de nome “Andorinha”. Meio mundo baixou em Viracopos para ver a estrela chegar num jatinho. Chegou e foi logo apresentando no saguão: “Meu bem, este é aquele fulano que arrumou pra gente passar uns dias aqui num hotel-fazenda. Ele não é gentil?”. Juro que vi. O coitado ficou com a cara mais arrasada do que político quando perde eleição – uma delícia.

E o jornalista que gostava de passar por poliglota e intérprete em Viracopos? Não acertava uma: perguntava em inglês, espanhol, francês, italiano, e recebia a resposta em português. Até que foi com a maior pose entrevistar o doutor Albert Sabin, que chegava para o Carnaval. Pensando em passar os colegas para trás, disparou a primeira pergunta em inglês e ouviu como resposta: “Presumo que nem todos os seus colegas falem inglês; vamos conversar em português, mesmo”. Doutor Sabin, ao lado de sua mulher, a brasileira Amélia Dunshee de Abranches, foi mais aplaudido por repórteres do que no dia em que anunciou a vacina contra a paralisia infantil.

O mundo está cheio desses tipinhos malandros que gostam de falar que são amigos de poderosos, ricos, celebridades… Eu também gosto de celebridades: conheci o Pachola, Mané Fala Ó, Gilda, o Dito Colarinho, Pitico, o soldado Squarizzi (que cuida do acervo do Portinari, aqui na matriz de Batatais), Grama, seo Pagano, o Bertoldo (que servia café na prefeitura), o Piteco, Renato Otranto, Toninho de Júlio, Zé Vasconcellos…

Soube pelo fenomenal Marcelo Rubens Paiva, que vem aí o livro da escritora-publicitária Mariana Caltabiano, “VIPs – Histórias Reais de Um Mentiroso” (Editora Jaboticaba), sobre o vigarista Marcelo Nascimento da Rocha, um dos maiores picaretas do Brasil. Marcelo (não o Rubens Paiva) passou três dias no Recife como dono da empresa aérea Gol, deu entrevistas a Amaury Jr., conheceu Luciano Huck, João Paulo Diniz, foi ciceroneado pela Feiticeira e Ricardo Macchi, e ia de jatinho para uma festa, com Marcos Frota e Carolina Dieckman, quando foi desmascarado pela Polícia Federal.

Deve ser obra primorosa. Existe outra. O jornalista Aluízio Falcão fala do livro de Pedro Cavalcanti e Luciano Delion “São Paulo – A Juventude do Centro” (Grifo Projetos Históricos e Editoriais). Nele, uma aventura de Zé do Pé, habitual penetra do sofisticado bar do Hotel Jaraguá, anos 50s. O banqueiro Walter Moreira Salles vai ao banheiro e Zé do Pé atrás, implora ao “doutor Walter” que, ao sair dali, passe por sua mesa e apenas pergunte “Tudo bem, Zé?”. Como negar um gesto de cordialidade? Dito e feito: “Tudo bem, Zé?”

Diante dos amigos, Zé devolveu: “Ah, Walter, não enche o saco!”. Perplexo, o banqueiro se afastou. E Zé do Pé emendou para os amigos boquiabertos: “Tudo que temo é o chato do Walter vir puxar conversa comigo…”.

Pregado no poste: “O Guarani está na zona de rebaixamento ou na zona?”

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