Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Orgulho de vira-latas

… e é só para dizer a todos da vergonha que sinto desta minha profissão. Noticiar que uma prostitua traficante de drogas brasileira derrubou o governador do Estado de Nova York faz parte da nossa obrigação. Mas transformar essa desqualificada e desclassificada em celebridade é nivelar nossa profissão à dos bandidos da laia dela. Em nome das prostitutas, que nunca condenei, sei que elas não aprovam a conduta desse traste nascido no Brasil.

Para quem jogou luzes sobre essa tranqueira, o eterno complexo de vira-latas, que marca a história do nosso povo, agora é digno de exaltação. Tudo pronto, senhoras e senhores? Então se preparem, porque se ninguém fizer nada, em breve ela estará nas capas de certas revistas; poderá ser convidada a visitar a casa do BBB; dará o ponta-pé inicial na finalíssima do Campeonato Paulista, se é que já não acertou com a abertura do Brasileiro. Tudo isso se não sair candidata ainda este ano.

Ela vai subir ou descer a rampa ou escadaria de algum palácio? Jurada de desfile de escolas de samba ou madrinha de bateria vem a calhar. Nem precisamos do Oscar: afinal, alguém que levou a estatueta já conseguiu a façanha de derrubar um governador americano? “Nóis é nóis, o resto é bosque!” Garanto que no Brasil, quem fizer mil vezes mais do que isso não derrubará nem o varredor da sala do auxiliar do subchefe do carimbador interino de qualquer repartição de Brasília.

Aqueles programas “jornalísticos” de TV, que vivem de expor as baixezas e tragédias humanas, vão se fartar. E não sossegarão enquanto não arrancarem dela os dotes do ex-governador na cama, mesa e banho. Por favor, se vocês a virem em algumas dessas “exibições”, saibam que podem chamar quem a entrevista de abutre, hiena ou urubu. Jornalista, jamais!

Se toda a mídia não tivesse tomado um furo de um jornal sério no ano passado, outra figura semelhante estaria sob os mesmo holofotes. Uma caipira paulista fazia um trabalho igualzinho para um grupo de altos funcionários da Volkswagen, daqui e do exterior, em ‘festinhas da firma’ que ela mesma promovia. Foi pega com a boca na botija, e seus ‘clientes’, afastados. Ela sumiu do mapa, depois de confirmar tudo ao jornalista, esse sim, José Maria Tomasella, que tratou o assunto sem fazer da dita cuja orgulho nacional.

Estados Unidos e Alemanha devolveram as respectivas para o lugar de onde vieram a furo. No desembarque, só faltou a faixa de “Miss Vergonha Nacional” e o cetro – enfiado na bolsa.

Pregado no poste: “Perdão, vira-latas”

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