Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Ora, o povo…

A ilustre dama de Itanhanguã esteve aqui. Veio, viu, fugiu e contou:

“Bem no coração de Campinas, jovens oferecem folhetos de propaganda: dentistas, celulares, fotos em cinco minutos, compra e venda de dólar, euro e ouro, jóias, cartuchos, dinheiro fácil, empréstimo a juro baixo, contabilidade, despachante. Ouço: ‘Aceito tais papeizinhos, não por me interessar, mas para que ao menos o que chega às minhas mãos tenha destino certo: lixo e não rua, como fazem os que emporcalham a cidade.’. Vi uma professora (só podia ser, eterna educadora!) chamando a atenção de uma senhora que atira papel de bala pela janela do ônibus. A porcalhona respondeu: ‘É só um papelzinho de nada.’. E a professora, em gesto digno de sua profissão e de cidadã: ‘Campinas tem um milhão de pessoas; se todos jogarem um papelzinho no chão, teremos um milhão de papeizinhos rumo aos esgotos. Já calculou quanto custa isto?’ A outra, indiferente, pareceu não aceitar a reprimenda, mas não ousou desembrulhar outra bala.

Na frente de bancos e do INSS, filas quilométricas, sob sol forte, às vezes, chuva. Autoridades nada fazem para amenizar o desconforto. Lamentável! Encontraríamos alguma Fernanda Montenegro se oferecendo pra escrever cartas a bom preço? Não, mas perto dos Correios, há uma multidão, talvez de desempregados, se oferecendo: ‘Quer cadastrar? Quer CIC, RG? Precisa de selo (três vezes mais caro), de envelope ou papel pra carta?’ Alguém aceita o serviço de recadastrar. O ‘profissional’ tem tanta dificuldade para preencher o formulário, que sua, bufa, estraga várias folhas.

No largo da Basílica, barulho intenso: dá pena dos que trabalham por ali. O volume do som ultrapassa o suportável. Carros de propaganda, brinquedos eletrônicos, alto-falantes caprichados para se fazer ouvir a léguas das lojas. E há ainda o tal ‘Politizador’, com seu primitivo aparelho amplificador de som, que, por infelicidade, amplifica mesmo! Na há autoridade competente nem sensível.

Num ponto de ônibus, ainda no Centro, dois senhores cansados de esperar pela condução vêem chegar uma perua. Exibem seus RGs e perguntam: ‘Podemos entrar?’ Nem houve resposta. Lamentaram: ‘A Emdec manobrou para mudar o nome desse tipo de transporte. Era perua ou alternativo, com lei obrigando gratuidade a portadores de carteirinha; mudaram para seletivo; houve outras leis tirando o benefício de idosos e deficientes. Prometeram frigobar, TV, cafezinho, comissário de bordo. Puro engodo. Se todos fazem parte do Sistema Integrado de Transporte, por que a diferença? Para ludibriar o povo?’ O povo? Ora o povo…”

Pregado no poste: “Falta pouco, minha senhora; falta pouco!”

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