Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Onze de Agosto

Três eventos merecem ser celebrados amanhã, por sua importância na história.

Data vênia, pela Ordem, Meritíssimo, o primeiro Onze de Agosto existe no calendário por causa da lei imperial de dom Pedro I (aquele da rodovia), que instalou os primeiros cursos jurídicos no Brasil, 1827: em Olinda e São Paulo, este, no Largo de São Francisco, consagrado pela Faculdade de Direito da USP. Não fosse conspurcado pelas armadilhas do Legislativo, nosso Judiciário seria brilhante. Mas no Brasil, todos sabemos, a polícia prende e a Justiça solta porque assim manda a lei. E todos sabemos, com tristeza, quem faz as leis.

O segundo evento trata da chegada da inigualável Companhia Paulista de Estradas de Ferro a Campinas, em 1872. Magnífica! Uma das cinco melhores do mundo. Primeira ferrovia a eletrificar suas linhas, a usar carros de aço para transportar passageiros e a fabricar vagões em suas próprias oficinas. Fomentou a criação de hortos florestais para obter dormentes — ela introduziu o eucalipto no Brasil. Pontualíssima – seu apito regia o tempo e a hora nesta terra, acompanhado pelos sinos da Catedral. Os funcionários da Paulista fundaram o primeiro sindicato de ferroviários, em São Carlos, em 1929, com o nome de “Sindicato dos Operários Ferroviários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro”. E trouxeram sua sede para cá. Mas os homens que fazem as leis a transformaram em estatal e ela virou sucata – onde o governo põe a mão tudo degenera.

Justamente uma ponte pichada, por onde passavam os trens dessa ferrovia, deu seu nome ao mais antigo clube de futebol do Brasil, que, como a estrada de ferro, escolheu Campinas para chegar, a 11 de agosto — de 1900. Tem tudo para ser eterna essa Associação Atlética Ponte Preta, posto que nascida dos ideais de um grupo de alunos do Colégio Culto à Ciência. No sofrimento se apura a raça. Duvido que na história do futebol brasileiro outro clube sofreu como a Ponte: ela sabe cair, perder, mas sabe melhor do que ninguém, renascer. Não fosse a Macaca, seria a Fênix, do emblema da sua Campinas, seu símbolo mais adequado. Nada mais Fênix do que o povo, nada mais povo do que a Macaca – é o segredo de sempre dar a volta por cima.  Ninguém consegue falar nela sem sorrir.

Quem agüentaria ser cinco vezes vice-campeã paulista, sem jamais ter alcançado o título máximo? Quem resistiria a tantos tombos pelas divisões de baixo, sem ter de entregar a própria casa para não falir? O que distingue a solidez dessa casa das demais é que ninguém pagou para construi-la: é obra de arquitetos, engenheiros, mestre de obras pedreiros, carpinteiros, marceneiros, eletricistas, encanadores, pintores, serventes… Tantas profissões, mas um só coração: pontepretano. Parabéns!

Pregado no poste: “Este ano faz meio século que a Ponte caiu para a segunda divisão do Campeonato Paulista”

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