Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

O que falta

É que as “otoridades” de hoje merecem que o povo delas se esqueça para sempre. Daí o abandono a que impõem nossos monumentos. É inveja, recalque e frustração, pois jamais serão capazes de chegar à sola dos pés dos que fizeram nossa história. Daí a degeneração da cultura – da música, da literatura, das artes plásticas, da dança – que não tem lugar digno em Campinas para se apresentar. Até no exterior, vários teatros homenageiam Carlos Gomes; na terra dele, nenhum. Basta isso para provar o que sempre digo: vote nulo, em legítima defesa. As futuras gerações vão aplaudir (e agradecer) você. Caso contrário, nossa sobrevivência estará ameaçada, porque a vivência já se foi.

Quando a cidade fez 200 anos, havia 62 monumentos públicos e particulares muito bem conservados, perpetuados num catálogo simples com resumo e localização da obra, mandado fazer pelo então prefeito Lauro Péricles Gonçalves, de fato o último que cuidou da cultura de Campinas como se campineiro fosse. Hoje, prometeram para o repórter Rogério Verzignasse a elaboração de um “cronograma emergencial de intervenções para a recuperação de monumentos na região central” (parece coisa do Maluf). Não precisa nem ser burro para saber que o que falta é mãos à obra, conhecimento e vontade de trabalhar.

Deve ser horrível, também, sobreviver numa cidade onde dois cidadãos fazem esta denúncia, digna de envergonhar qualquer flagelo de Deus: — está no “Correio Popular” do dia de Corpus Christi:

“O sr. Feliciano Nahimy questiona por que as igrejas não têm ambulatórios ao lado de suas dependências, como acontece em algumas igrejas de Paris. Para seu conhecimento, a Paróquia São Pedro Apóstolo, na Chácara da Barra, possuía um bem montado ambulatório, com pediatras, cardiologistas, clínico geral, psicólogos e enfermeiras, todos voluntários. Não eram estagiários e, sim, profissionais. (…) Havia também um excelente consultório dentário para atendimento das crianças carentes. Sabe o que aconteceu, sr. Feliciano? Os profissionais precisavam ser cadastrados na Prefeitura. (…) Com isto, nosso pároco encerrou as atividades.” Wilma Silva Hambruck, aposentada, Campinas.

“O ‘Correio do Leitor’ publicou carta do sr. Feliciano Nahimy, dizendo que um amigo informou que em Paris duas paróquias dão consultas e tratamento médico aos pobres e que as paróquias daqui poderiam fazer o mesmo. E faziam, sr. Feliciano, mas, infelizmente, os nosso políticos não são inteligentes como os de lá. Conheço uma paróquia que dava atendimento gratuito em cardiologia, obstetrícia e psicologia e davam ainda os medicamentos, mas a Prefeitura proibiu sob o argumento de que não era credenciado e que não se podia atender somente os pobres do bairro (…).” Itamar de Toledo Colaço, aposentado, Campinas.

Pregado no poste: “No Parque Taquaral, saem os bondes e entra entulho”

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