Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Ó potentados!

 

“A justiça brasileira é uma criança brincando, toda enlameada, que precisa de um bom banho”. Professorinha brasileira e baiana, cuja casa foi leiloada por engano a mando de um juiz.
Para quem não se conforma com a libertação da diretoria e do dono do Banco Nacional. Para os indignados com a soltura do casal Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, assassinos da jovem Daniela Peres. Para quem está estarrecido com a boa vida do banqueiro Salvatore Cacciola na Itália. Para os desiludidos com os resultados das CPIs do Narcotráfico, da CBF, das Empreiteiras, do Banespa… Para quem não aceita a impunidade no escândalo do Tribunal Regional do Trabalho e quer ver toda a gang do Lalau na cadeia. Para aqueles que se sentem insultados com as benesses pagas pelo povo aos políticos e “potentados”. Para os que sentiram nojo do Brasil ao ver a libertação dos seqüestradores do Abílio Diniz. Para quem ainda se envergonha ao ver o ex-deputado Sérgio Naia livre, leve e solto pelo mundo, debochando dos brasileiros de bem. Para os que se apavoram ao ver a quadrilha do Collor, quase toda, pronta para voltar. Para os que ainda esperam ver identificados — e condenados – os responsáveis pelo sumiço de 360 quilos de cocaína que estavam sob guarda da polícia (!) de Campinas…
A explicação, a revolta e o consolo estão na Bíblia. Livro dos Salmos, nº 57. Ouça, cale-se e resigne-se:

“Fazeis verdadeiramente justiça, ó potentados?
Julgais com retidão, ó filhos dos homens?
Não, nos vossos corações tramais a iniqüidade,
E vossas mãos distribuem na terra a injustiça.
Do colo materno já se perverteram os ímpios
E do seio que os gerou já desgarraram os mentirosos.
Semelhante ao das serpentes é o seu veneno,
Ao veneno da víbora surda que fecha os ouvidos,
Para não ouvir a voz dos encantadores,
Do mágico que encanta com arte.

II

Ó Deus, quebrai-lhes os dentes na boca;
Parti-lhes, Senhor, os queixais de leões.
Desapareçam como água que corre;
Embotem-se suas flechas, se as dispararem.
Passem como a lesma que se arrasta diluindo-se,
Como o feto abortivo de uma mulher, o qual não viu o sol.
Antes que as vossas marmitas sintam as chamas do espinho,
Enquanto está verde, que o turbilhão o arrebate.
Alegrar-se-á o justo quando vir o castigo;
Banhará os pés no sangue do malvado.
E dirão os homens: sim, há uma recompensa para o justo.
Sim, há um Deus, que julga na terra.”
Pregado no poste: “Já naquele tempo…”

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