Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

O pior e o melhor

(Desculpem. Antes de começar a crônica de hoje, um apelo para o amigo Carlos Francisco de Paula Neto: por misericórdia, mande outro e-mail com a história das ferrovias. Um vírus tão pernicioso quanto a gestão do Maluf na secretaria estadual de Transportes destruiu o que você me enviou. Agradeço de joelhos e de coração reler aquela obra de arte.)
Mas como eu ainda não ia dizendo, depois da vergonhosa história dos desmanches de carros, sabe qual o novo lema da polícia da região de Campinas? “Pior cego é o que não ‘sabe’ ver”. Palavra do advogado Luiz Antônio Ignácio, professor licenciado da faculdade de Direito da Puccamp, há mais de quarenta anos morador em Campinas e torcedor do Guarani. (Ei professor, hoje em dia, dizer que torce para o Guarani não estraga o currículo?). Veja só a história que ele conta para mostrar o comportamento da nossa briosa polícia, após a edificante história dos desmanches:
“Corria ‘de boca em boca’, lá pelo fim da década de sessenta, que uma determinada autoridade das lides forenses, cansada de ouvir as lamúrias dos réus em processos crimes de que, quando presos, haviam sido pendurados em ‘pau-de-arara’, decidiu sem prévio aviso visitar os porões da delegacia, onde, segundo as vítimas ocorriam as sessões de tortura. Realizada a visita ’surpresa’, a autoridade passou a relatar que as alegadas torturas não passavam de meras desculpas porque, nas dependências indicadas, somente foram encontradas algumas cadeiras, um ou dois cabos de vassoura, um pedaço de mangueira de regar jardim, além de três ou quatro metros de fio elétrico, já usado; talvez jogado fora por algum eletricista encarregado da manutenção. Instrumentos de tortura – nenhum!”. O Luiz Ignácio acrescenta que o desmanche da Avenida das Amoreiras “já havia sido visitado por alguns membros do Ministério Público, acompanhados de policiais e, na oportunidade, nada de anormal foi observado!”.
Tenho um amigo admirável, pesquisador da Faculdade de História da Unesp em Franca, o José Chicachiri Filho, capaz de dizer a que década pertence um documento só pelo deslizar dos dedos sobre o papel. Enxerga mais do que uma academia de História inteirinha. Demos carona da escola até a casa dele, e o próprio Chicachiri ensinava o trajeto para aquela santa que mora aqui em casa! Ele é o cego que sabe ver e quem sabe ver enxerga até a alma do próximo.
Pregado no poste: “Dona Izalene é a Marta Suplicy brasileira”

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