Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

Crônicas

O ‘Parque Industrial’

Por isso, o mundo está assim. Hoje, para conseguir emprego, o candidato precisa saber responder a perguntas assim:

  1. o que aconteceu neste país durante os últimos dez anos?
  2. quantos semáforos há em Manhattan?
  3. como você pesa um elefante sem usar uma balança?
  4. o que você faria se herdasse a pizzaria de seu tio?
  5. quantas latas de cerveja consumiram na cidade na semana passada?

Como não sei o que essas besteiras escondem, diria que nos últimos dez anos não aconteceu nada importante neste país, mas a maior bobagem, sem dúvida, é este questionário. Sobre os semáforos naquela ilha, dá para saber quantos não estão funcionando: basta contar o número de guardas com apito na boca e cassetete na mão – ou vice-versa.

Não tenho tio pizzaiolo nem dono de pizzaria, mas se herdasse uma, mudaria de ramo e desistiria de trabalhar, porque abriria uma livraria só para vender a obra literária do Lulla, do Zé Sarney, do Collor, do Maluf, do Genoino e de todos os ex, atuais e futuros ‘BBBs’. Nome da casa: “Oásis da ignorância no deserto do saber”.

Ah! As latinhas de cerveja? Consumiram todas, tanto que o Brasil terá de importar 800 milhões delas até março. Mas importa de onde?

Dá mais trabalho pesar um elefante sem usar a balança do que trocar o papel higiênico por confetes para deixá-lo limpinho, como garante o Vicentão Torquato. Ele já foi capataz de garimpo, cozinheiro, soldado do Exército, caminhoneiro, garçonzinho de bar, baleiro, pipoqueiro, açougueiro, pescador, granjeiro, garapeiro, vendedor de gelo, dono de boteco e de restaurante, estrela de televisão e tratador com muito carinho de todos os bichos do Bosque dos Jequitibás.

Inteligentes e pertinentes eram as perguntas que nos faziam na escola. A mais instigante veio do grande mestre Walther Zink: “Que utilidade tem um bebê?” Ele jamais respondeu, mas quem ainda está atrás da resposta aprendeu a diferença entre ‘utilidade’ e ‘importância’. Houve respostas inesquecíveis para perguntas prosaicas, como as do Carlos Eduardo Nista, para dona Lilian Nopper, no segundo ano primário do Colégio Rio Branco: “O chefe dos índios é o ‘cacique ou molho de chave’, e José Bonifácio foi o ‘Parque Industrial’ da Independência!” Tá bom, eu conto: ela perguntou o primeiro sobrenome do prefeito Ruy Novaes e eu disse: “Babão”.

Pregado no poste: “Que cor era a bicicleta preta do Mané Fala Ó?”

 

 

 

 

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