Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2000Crônicas

O padre nosso

“Nenhuma briga de marido e mulher resiste a um Pai Nosso bem rezado. Quando os dois chegam ao ‘Pão nosso de cada dia…’, o motivo da desavença já passou e tudo fica em paz outra vez.” Lição do padre Geraldo Azevedo, que ouvi certa vez ao passar pela porta da Barão de Jaguara, da Igreja de Nossa Senhora do Carmo — templo da cidade, nossa “Matriz Velha”, que ele tornou basílica, para orgulho nosso e de Barreto Leme. Padre Geraldo foi o guardião maior do berço de Campinas. Gostava da nossa cidade como poucos e não me consta que algum dia tivesse mandado assassinar qualquer das árvores do Largo da Matriz. Respeitava a  vida. Sábado à tarde, Deus o chamou, e ele, sem avisar ninguém, obedeceu.

Quando ele chegou para a Igreja do Carmo, começo dos anos sessentas, chacoalhou a paróquia. Ele e o padre Chiquinho (acho que eles combinaram essa viagem…) foram os primeiros padres “comunicadores” de Campinas. Não me lembro se na rádio Cultura ou na Educadora, padre Geraldo inaugurou a “Ave Maria”, programa que ia ao ar toda tarde, às seis horas, patrocinado por D. Mazuca. Jamais fez palanque do altar. Tinha voz forte, de quem está convicto do que fala. Sua voz, a sirene do nosso Correio Popular e as badaladas do relógio da Catedral anunciavam o fim de mais uma jornada de trabalho na cidade. Três símbolos inconfundíveis, inesquecíveis.

Em casa e nas casas dos meus amigos, ele era o querido “Geraldão”. Não era o padre, o conselheiro, nada disso: era o amigo. E eram esses seus amigos da paróquia, por exemplo, que em noites de sexta-feira, depois da “Reza”, lavavam o chão do templo para que tudo ficasse bonito na missa de domingo. E não lavavam por obrigação ou porque o padre pediu. “Lavamos, porque é legal ficar lá com ele”.

Geraldão sabia cativar seus paroquianos. Os doentes recebiam visita quase diária, em casa ou no hospital. Na missa do Sétimo Dia do meu pai, ele se emocionou, interrompeu a cerimônia, enxugou as lágrimas e seu abriu: “Confesso que eu é quem ia buscar conforto com ele.”.

Pregado no poste: “O Céu está em festa.”

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