Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

O ingresso

Quando ele nos visitou no colégio pela primeira vez, já era um astro da televisão, maquininha que engatinhava no Brasil. Mais um rosto de artista campineiro em preto e branco, exibindo-se para alguns milhares de telespectadores que não iam além de cento e poucos quilômetros de São Paulo.

Campineiros como Walter Forster, Ayrton Rodrigues, Renato Corte Real, Kalil Filho, pouco depois, a Regina, e a galeria só cresce. Era o Carlos Zara, da família Zaratini, uma das pioneiras na arte tumular em Campinas, ali na Álvares Machado com General Osório. Zaratini e Colluccini: bela dupla, belas artes!

Nossa idolatrada professora Mariinha Mota Aguiar avisou: “Foi nosso aluno e vamos recebê-lo com carinho. Quem tem tevê em casa já viu aquele programa do canal 7, ‘Gente simpática’. Então, na historieta, ele é o pai da Lourdinha Félix, marido da Gilmara Sanches e o mordomo da família é o palhaço Pimentinha. Lembram, agora?”. Pois é, era o embrião da Família Trapo, seis anos antes, na TV Record.

Ele chegou, terno marrom, camisa azul clara, gravata azul escuro, óculos de aros pretos, sapato esporte também marrom (lembro-me bem), e foi levado ao pátio dos meninos pelo nosso diretor, insuperável Telêmaco Paioli Melges. O Zara, galã da televisão, estudara no Culto à Ciência. Foi logo confessando: “Guardo até hoje a caderneta do terceiro científico, com a única advertência anotada, justamente, pelo diretor Telêmaco. Naquele tempo, não havia uniforme e o paletó e a gravata eram obrigatórios. Acontece que bateu o sinal anunciando o fim da última aula. Saímos da classe e ele me flagrou ali, quase em frente à sala de Química, tirando a gravata…”.

Na platéia reunida para ver e ouvir o ex-aluno galã, uma menina, fã silenciosa do ator-engenheiro (sim, depois do colégio, ele formou-se na famosa Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Façanha!).  Ela, ninguém sabia, recortava e guardava tudo o que saía sobre o nosso herói em jornais e revistas. Sabia sua vida inteirinha. Aproveitou que o dia da visita era dia de ginástica e fez a mãe engomar o uniforme, só para se aproximar o mais elegante possível do ídolo. Por causa dele, alimentava o sonho, secreto, de ser atriz.

Venceu a timidez, só Deus sabe como, e perguntou: “Como faço para entrar no teatro?” e o ídolo decepcionou: “Compre um ingresso…” Ela rasgou a memória impressa que guardava do galã, mas não perdeu a admiração. Nem nós.

Pregado no poste: “O Brasil acaba com os políticos ou os políticos acabam até com as saúvas!”

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