Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

O homem do sol

Campinas tem cada uma…

O jornal ‘O Estado de S. Paulo’ nasceu aqui, no dia 2 de outubro de 1874 – certidão de batismo assinada pelos republicanos, abolicionistas e liberais Campos Sales, Rangel Pestana, Francisco Glicério, Antônio Pompeu de Camargo e os Américos Brasiliense e de Campos. Campos Sales, Glicério e Pompeu fundaram o colégio ‘Culto à Ciência’. A primeira edição circulou no dia 4 de janeiro de 1875. Anos depois, outro campineiro, Júlio de Mesquita, assumiu o controle do jornalão. Antes, foi aluno do mesmo colégio.

Mas em São Paulo, o pessoal da redação sempre implicou com Campinas e os campineiros – e olha que a sucursal daqui existia desde 1912, fundada pelo próprio Júlio Mesquita, que era vereador nesta terra e morava no hotel Pinheiro, ali na Rua Costa Aguiar. De lá, ele mandava notícias por telefone – o povo, extático na rua, admirado com “o homem que falava com São Paulo!”. Implicavam com nosso orgulho e nosso bairrismo: “Tudo lá tem de ser o melhor, o maior, o pioneiro, o mais importante?” Eu respondia: “Tudo. Até o jornal em que você trabalha é de lá. E pára de encher, que o editor-chefe (Miguel Jorge) também veio de lá.”.

Um dia, procurei em Campinas uma pessoa extraordinária, o doutor Renato de Almeida Prado Costallat, engenheiro ferroviário, homem sensível, inteligente, marido da mestra Isabel. Quer ver como você a conhece? A Bebé Ferrão. Ah! Lembrou, né? Pois é. O doutor Renato é o construtor daquele incrível relógio de sol de que os cinqüentões se lembram instalado no jardim do Viaduto Miguel Cury. Agora está lá nas bandas da Lagoa do Taquaral.

Fiz uma longa reportagem com ele sobre o relógio – se bem me lembro, o doutor Renato andava meio zangado, porque o relógio estava abandonado e até deixaram crescer uma cerca viva onde não devia, porque ela escondia o sol, e o relógio… “parava”. No meio do texto, eu disse que era o maior relógio de sol da América do Sul. Pra quê!

O francano Samir Miguel, meu querido Zobaido, editor de ‘Cidades’, veio com tudo: “Até isso? Até relógio de sol de Campinas tem de ser o maior da América do Sul? Da onde esse engenheiro tirou isso? Quem falou para ele que é o maior relógio?” Procurei o doutor Renato e contei: “O pessoal lá em São Paulo quer saber de onde o senhor tirou a informação de que o seu relógio de sol é o maior da América do Sul…” A resposta dele foi maravilhosa:

— Quem diz que ele é o maior é o seu jornal, uai! Está aqui, na reportagem do Estadão que saiu no dia da inauguração, lá em 1961: ‘O maior relógio de sol da América do Sul será inaugurado hoje em Campinas…”

Nossa! Minha reportagem teve chamada na primeira página! Um dia, esse homem incrível me deu de presente um relógio de sol… de bolso! Lindo!

Doutor Renato, posso dizer que é o maior relógio de sol de bolso da América do Sul?

Pregado no poste: “O senhor é candidato a prefeito, dom Gilberto?!?!”

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