Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

O furo vem a furo

Tancredo Neves morreu a 18 de abril de 1985 e não no dia 21, como políticos empulharam a Nação, só para coincidir com a data da morte de outro mineiro: Tiradentes.

A história só se repete como farsa. Semana passada, durante três horas, um portal anunciou a morte do senador Romeu Tuma, internado há vários dias no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para tratar, segundo a família, de uma infecção na garganta, que lhe tira a voz e a capacidade de falar. Até Lulla esteve lá. Mentira. Tuma não morreu. Não faltaram piadinhas no tuiter, como esta: “Cristo ressuscitou em três dias e Tuma, em três horas”. Ou imitando a linguagem do jornal dono do portal, quando Tuma morrer: “Tuma morreu ontem, como este jornal antecipou dia 24.”. Já estão à espreita urubus de plantão, especializados em ligar Lulla a fatos negativos, como as perdas do Corinthians e da Seleção. Sônia Abrão, consagrada ave agourenta da Rede TV!, não dorme desde sexta-feira.

A falha do portal não é a primeira nem será a última da história. A conceituada Agence France Presse acabou a II Guerra meses antes; matou o Papa João XXIII dois dias idem e o Leonel Brizola anos idem. O “Estadão” também matou nosso “Marechal da Vitória”, Paulo Machado de Carvalho, e seu próprio editor de cidades, o hoje historiador Laurentino Gomes, quando ambos estavam em atividade. Imagine! Numa ponta da redação, o Laurentino, vivinho da silva; na outra, o editor de óbitos, Toninho “Boa Morte”, escrevendo sua “nota de falecimento”. Só idosos gostam de ler essa seção nos jornais. Naquela manhã, fui o primeiro a ler e a avisar: “Ô Laurentino, morra aí, porque o jornal deu sua morte, meu!” Não me lembro de como terminou essa história, mas não se tratava de homônimo.

Agora, a bomba. Tardinha de 18 de abril de 1985, Romeu Tuma, da Polícia Federal, ligou para os jornalistas Júlio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita, diretores-responsáveis pelo “Estadão” e pelo “Jornal da Tarde”, e anunciou a morte, a tempo de se preparar a edição especial. Àquela hora, uma médica da equipe de 40 professores-doutores que cuidava de Tancredo, deu a notícia para Ruy Mesquita. Um jornalista do “Jornal da Tarde”, sempre no lugar certo, na hora certa, alertou que começavam os preparativos no Palácio dos Bandeirantes, para o primeiro velório do presidente. O editor-chefe do “Estadão”, hoje ministro Miguel Jorge, reuniu todo mundo e avisou: “O Tuma acabou de ligar; Tancredo morreu. Então, é com essa informação que passamos a trabalhar.”. Às 19 horas, na Rádio Eldorado (do grupo “Estado”), segundos antes de começar a “Voz do Brasil”, seu diretor de jornalismo, Adhemar Altieri, deu a notícia.

No Instituto do Coração, “otoridades” interessadas em enganar o povo trataram de desmentir para unir Tancredo a Tiradentes. Adhemar começa a escrever o livro-reportagem e me autorizou a contar, em nome da velha amizade.

Pregado no poste: “E aí, Lulla, é a imprensa que engana o povo?”

 

 

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