Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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O filho

Esperei passar o Dia das Mães para contar essa história. Quem se lembra bem dela é o jornalista Dirceu Pio, um grande contador de “causos”, que o progressista distrito de Macucos, na cidade de Getulina, colocou no mundo. Pio é filho de Getulina – o lugar é lindo, mas o nome…

Antes do “causo” do Pio, o caso que eu vi. Nova Ponte, aí no Triângulo Mineiro, pertinho de Araguari, foi reconstruída, porque a cidade velha teve de ser inundada para a construção da barragem de uma hidrelétrica. E o prefeito exigiu que tudo fosse levado para a nova morada da população. Até o cemitério. Exumaram corpo por corpo. A igreja, as pedras do calçamento das ruas, tudo. Por último, ele encafifou que as prostitutas também tinham direito ao mesmo bairro que as abrigava na antiga Nova Ponte. “Nenhuma cidade pode viver sem elas”, decretou, com apoio emocionado da primeira-dama. “Por último, vai a creche, meu amigo!”. Eu quis saber a razão de a creche ter ficado para o fim. E ele emendou: “Primeiro, as prostitutas; depois, os filhos das prostitutas.”. Não foi bem “prostituta” que ele falou…

O Pio conta que numa grande cidade do Rio de Janeiro, o prefeito precisou desapropriar a rua das “primas”, para a passagem de uma avenida. (Se a História contasse as histórias de prefeitos com essas “servidoras”, teríamos histórias deliciosas, principalmente porque nenhuma delas é aprovada por concurso…). As moças da difícil “vida fácil” pressionaram o alcaide fluminense, exigindo outro local de trabalho, de fácil acesso, como o antigo “ponto comercial”.

Os assessores ficaram de cabelo em pé — até os carecas. Como explicar no orçamento uma verba destinada à construção de uma “zona do meretrício”, como definia o repórter Antônio Carlos de Júlio, aqui no “Correio”, quando nascia o Jardim Itatinga? Para enrolar as moças, o prefeito sugeriu: “Vocês me enviem um ofício lá para o Gabinete, que eu encaminho.

No dia seguinte, ele recebeu o ofício, devidamente protocolado pelas prostitutas. O texto começava assim: “Meu filho…”.

Pregado no poste: “Naquele tempo, era melhor. Pra ele.”.

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