Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

O filho do Bandido e o filho do homem

Naqueles tempos de vacas magras na agricultura brasileira, faltava leite. Às vezes, arroz, feijão, farinha, açúcar e pão também faltavam. Tempo em que a imprensa mostrava falta de leite nas padarias e leite sobrando para amamentar os filhos de éguas do Jóquei Clube. Mercado sem comida, comida sobrando nos banquetes de autoridades. Dava-se mais valor aos animais do que aos homens. Nestes tempos de agronegócio, porque o governo tirou suas patas da produção, não se fala tanto em falta de comida barata, embora ainda usem e promovam muito a fome do povo para ganhar votos em vez de alimentá-lo. Quando o poder tirar as patas do Fome Zero, a fome zera.

Mas o que me chama a atenção é o preço de uma dose de sêmen – uma só – desse touro Bandido, um dos melhores atores da novela “América”: US$ 3 mil! Comecei a especular. Isabelle Garcia, jornalista da EPTV aqui de Ribeirão, conta que enquanto viveu em Londres, soube do comércio legalizado de sêmen humano. E que cada dose custava “sete paundes”, uns 30 reais, pouco mais. O do touro brasileiro vale 25 vezes mais do que o do homem inglês! A repórter Cláudia Cólen, da mesma EPTV, depois correspondente do ‘Correio Popular’ em Londres, viu anúncio em um jornal londrino: “Centro de Reprodução Humana precisa de brasileiros entre 21 e 40 anos”. A Cláudia foi atrás e ouviu: “Pesquisa em 80 países revelou que o esperma do brasileiro é o mais fértil do mundo.” Virou notícia.

Puts! Ser filho do Bandido vale mais do que ser filho de gente. Isso, lá na Inglaterra. Lá, onde mocinhas bonitinhas se viram nos 30 “paundes” para posar nuas, de modelo para estudantes de artes plásticas. Está a fim? Sem falar dos laboratórios farmacêuticos, que pagam de um a mais de mil “paundes” a malucos dispostos a servir de cobaias para novos medicamentos. Mais ganha quem corre mais risco. As condições de pagamento estão no sítio “oilondres.com.brrrrr”. O “brrrrr” não é pelo frio londrino, não; é de medo.

Dez mililitros de sangue valem 60 “paundes”. Quer testar droga contra obesidade por nove dias e nove noites? Pagam 1.015 “paundes”… Arque com as conseqüências.

Continuei a especular e fui apresentado, por telefone, a uma espetacular profissional da saúde, de nome lindo: Vera Beatriz Feher Brand. Ela coordena, há 16 anos, o banco de sêmen do respeitabilíssimo Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. Vera Beatriz fala com tanta competência, educação e simpatia, que nem vou interromper:

— Não, aqui não se paga nada pelo sêmen. Mas se o desse touro vale US$ 3 mil, então, o do Brad Pitt vale R$ 100 mil! Para doar, nem precisa ser bonito. Basta estar saudável e ter entre 18 e 40 anos. Daí, o doador passa por uma grande bateria de exames, para certificar sua saúde e qualidade do sêmen, desde exames de sangue até espermograma. Embora ele não seja remunerado, a doação é retribuída com os exames que, se fossem realizados em laboratórios especializados, custariam cerca de R$ 5 mil.

Agora, vem a novidade. Nem a doutora Vera Beatriz sabe as causas:

— Ultimamente o número de espermatozóides está diminuindo. De 1992 a 1995, havia mais do que hoje; a contagem geralmente ficava acima dos padrões. Hoje, 40% (!) dos doadores são eliminados por insuficiência de espermatozóides. Estamos estudando. Seria estresse? Ainda não sabemos. Mas quem quiser doar sêmen para o nosso banco, pode nos procurar aqui no hospital: Avenida Albert Einstein, nº 627, 7º andar. O CEP é 0565 1901 e o telefone, (11) 37472701.

Será que o homem já está desaparecendo?

Pregado no poste: “Caim matou Abel, Phimatosan e espermatozóide…”

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