Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

O Cesinha tem razão

O mundo acabou e ninguém percebeu. Pior do que essa mãe de Jundiaí, que degolou os filhos com serra elétrica, só aquela aqui de Ribeirão Preto que, em priscas eras, provocou a manchete “Fome na Vila Virgínia: mulher aborta e come o feto”. Esse mundo está perdido e não é porque a mulher sai às ruas com as cuecas do marido, como cantava Firma Nega na porta do Ponto Chic, certo de que seu canto era regido pela estátua do maestro.

Não se pode nem atribuir o tresloucado gesto a uma irresistível tensão pós-parto, posto que as infelizes crianças já tinham certa idade, embora talvez nem a mãe soubesse a idade certa das coitadas. Do jeito que está este mundo que damos a Deus, nada a estranhar. Cada vez mais louco este louco mundo novo. Dia sim outro também são bebês encontrados no lixo, incinerados ou jogados na calçada, no meio da rua, na porta de mansões na esperança de um futuro melhor – além de mães que fogem da maternidade sem levar o bendito fruto.

Quando a mãe faz um negócio desses, o esforço extremo de Maria para livrar seu menino Jesus das garras de Herodes foi em vão – ninguém quer seguir o exemplo da Sagrada Família.

Que futuro tem um brasileiro hoje? A mãe apareceu na televisão dizendo que o atual presidente queria abortar a filha que hoje com ele milita. O maior ídolo do esporte renegou a própria filha, morta recentemente por um câncer nascido de imenso desgosto. Um governador paulista não quis saber de amparar o pai, mendigo, andarilho no Largo Treze de Maio – creia, reduto e berço eleitoral do filho. Falam no filho de um ex-presidente vivendo com a mãe na Europa, mas só acredito vendo o teste de DNA.

Por tudo isso, dou razão ao Cesinha, competente e sensível editor do “Diário do Povo”. Tascou na primeira página um indignado “INACREDITÁVEL”, em vermelho garrafal e sanguinário. Pensei na revolta contra aquela mãe de Jundiaí. Nada disso. Era contra a conduta escandalosa e ociosa do time de um clube chamado Guarani, que de campeão brasileiro de 1978 (Antes de Cristo) ruma para o ralo da história, por obra e graça de seus dirigentes de até outro dia.

Cesinha, estou com você: mãe serrar os filhos pelo pescoço não é mais uma atitude inacreditável. Sem dizer nada, você disse tudo com essa troca. Foi a manchete mais silenciosa e verdadeira deste ano. Parabéns!

Pregado no poste: “Deputados querem aumentar os próprios salários em 90,7%. Não merecem o respeito de ninguém”

 

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