Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

O bispo não é candidato

Ufa! Graças a Deus! Nosso queridíssimo bispo dom Gilberto Pereira Lopes não é candidato a prefeito de Campinas. Uma das poucas autoridades (espiritual, mas autoridade) dignas desta terra não correrá o risco de chafurdar na política. Fiquei com medo, porque li não sei onde ou ouvi falar, sei lá, que o bispo será candidato a prefeito. Mas a repórter Teresa Costa, terror dos medíocres, garante que ele não entrará nessa. Na hora, lembrei-me do cardeal dom Agnelo Rossi. Certa vez, papeando com ele numa de suas vindas ao Brasil, ele me disse que Campinas é a cidade que mais bispos deu ao Brasil. Ele mesmo, nascido em Joaquim Egydio, conhecido no alto clero do Vaticano como “o mais orgulhoso dos campineiros”.

(Quando Campinas era uma cidade com cabeça, tronco e membros, os campineiros tinham do que se orgulhar. Hoje, parece conduzida por membros inferiores; o tronco é envolvido pelos superiores, para se proteger de punhaladas, e a cabeça está… Onde está?).

Brinquei com o cardeal: “Muitos bispos e um prefeito, certo, dom Agnelo?” Ele nem percebeu, estranhou e eu emendei: “O senhor não é o prefeito da Sagrada Congregação para Evangelização dos Povos, lá em Roma? Esqueceu?”

Na dúvida, procurei outro oráculo da cidade, o jornalista Romeu Santini, há mais de quarent’anos na egrégia (gente boa, mas quando converso com ele, faço de conta que não é vereador). Fala Romeu: “Campinas nunca teve padre nem bispo prefeito, pelo menos depois da ditadura Vargas. Acredito que mesmo na disputa pela Câmara e Prefeitura não houve padres ou bispos candidatos. Essa ‘ausência’ é comum também em outros municípios.”

Estou com tanto medo de que o bispo se candidate, que fui atrás de um guru, o jornalista José Pedro Martins. Ele descobriu nossos quatro padres vereadores, lá no século 19, quando a Igreja era casada com o Estado. Estão lá nos alfarrábios desse filho espiritual do morgado de Matheus: padre João Albertino de Seixas (1829 a 1832 e 1837 a 1840, no período da Regência), João Manuel de Almeida Barbosa (1841 a 1844, e dois mandatos, 1891 e 1892, como membro do Conselho de Intendentes), Antônio Cândido de Melo (1861 a 1864) e Joaquim José Vieira (1873 a 1876).

Dos quatro, só o padre Vieira merece nome de rua na cidade. Nasceu em Itapetininga. Além de vereador, foi o décimo quinto vigário de Campinas e pioneiro das obras da Santa Casa. A rua Padre Vieira nasce perto da própria Santa Casa e tem o Giovanetti 5. Falar nisso, você conhece o seo Giovanetti? Nem eu. Mas falam tanto nele, que qualquer dia convidam o Giovanetti, Seo Rosa, Coronel Mostarda, Maria Bonjour, até o Éden para vereador ou prefeito. E Campinas sairá ganhando.

Pregado no poste: “Portanto, o dízimo não virá no carnê do IPTU. Amém, pessoal?”

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