Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

O 1° clone

Muita gente nem sabe onde nasceu. Alguns fazem mistério, outros preferem mentir, mas não mostram a certidão de nascimento nem ameaçados com um atestado de óbito. Há os que se envergonham da terra natal e os que preferem, até, renegar a própria nacionalidade. Mas continua nascendo gente sem parar.

No Correio do dia 16, a nossa Maria Teresa Costa, repórter desde que veio para a Terra, mostra um dado assustador: só com “escala em Campinas”, já chegam ao mundo quase 40 bebês por dia! Sabe lá o que significa isso? Foram 1.101, em setembro; 1.192, em outubro; 828, em novembro; 1.197, em dezembro; 1.180, em janeiro e 1.166, em fevereiro.

Estranho, aqui, só o fato de novembro ser o mês de menor número de partos, quando se observa que exatamente nove meses antes foi Carnaval… Mas esse refluxo tem sua lógica, como interpreta a doutora Sílvia Belucci, do Centro Corsini. Se for uma tendência, “… vem provar que as campanhas maciças contra a Aids, como as que são feitas nos carnavais, dão resultado. A taxa de natalidade seria um indicativo indireto de que as pessoas estão se protegendo”. Conclusão: no Brasil, pelo menos, se houver Carnaval o ano inteiro, o País acaba de descobrir o melhor meio de controlar a natalidade e a Aids, ao mesmo tempo.

Fazendo as contas na ponta do lápis (não sei nem gosto de usar calculadora), nasceram em seis meses 6.664 crianças nas quatro maternidades (fora os que escolheram caminhos naturais para chegar). Isso significa que naqueles 182 dias, aportaram na terra do Barreto Leme 37 bebês por dia, mais de 1,5 por hora. Nesse ritmo, a cada ano, Campinas é berço de 13.328 crianças.

Felizmente, nenhuma delas clonada. Ou será que já…

Nada contra quem chega a este berço (ainda?) esplêndido, mas os médicos já andam preocupados, porque a “estação” é cada vez menor para tantos passageiros do futuro. Para complicar, o número de baldeações aumenta a cada hora. Principalmente dos bebês que vêm para embarcar logo em seguida rumo a Hortolândia, Sumaré, Jaguariuna, Monte Mor e adjacências.

Também nada contra as adjacências de Campinas. Afinal, apesar do orgulho natural e justificado, esta cidade é hospitaleira e aceita até forasteiros, alguns inúteis e oportunistas (políticos, principalmente), que se aproveitam dela para ganhar fama (boa ou má) em todo o País. No mais, reconheço que ela não seria o que é sem os que vieram para conosco trabalhar e viver.

Cá pra nós: não bate uma satisfação gostosa, quando perguntam onde você nasceu ou de onde você veio? Aí, você sorri, e responde: “Campinas!” Mais gostoso ainda é ver a cara de inveja do interlocutor. É ou não é?

Sei não, mas eu acho que esses bebês das adjacências estão blefando. As mães vêm com essas desculpas de que onde eles foram encomendados não há hospitais, de que o SUS não atende direito, de que faltam recursos. Isso é conversa mole. O objetivo desses nenés é ostentar, pela vida a fora, todos os documentos com a marca que distingue um cidadão: “Local de nascimento: Campinas”. Alguns, como eu, põem até um ponto de exclamação ao lado do nome desta cidade mágica. Fica bonito: “Local de nascimento: Campinas!”.

            Só não vale, no futuro, os clones desses campineiros de fora usarem Campinas como lugar de nascimento. Essa história de clone é tão velha quanto a do homem. Afinal, com perdão das feministas, o primeiro clone foi a Eva. Mas ficou melhor do que o original, concordo.

 

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