Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Novo ou usado? Luxúria ou perdição?

         O telefone lá de casa era 6976. No Taquaral, havia uma farmácia com número parecido. Coisa de moleque. Naqueles tempos, ‘bina’, detecta e outras engenhocas só eram usadas nos gibis do Flash Gordon, do Charlie Chan e nos filmes do James Bond. Nem Mandrake. Por isso, passavam trote adoidado nele, dizendo que era a Narda (e isso é nome de namorada?).

Na infância, quem nunca passou trote pelo telefone que atire o primeiro celular. Alguns, criativos; mas outros, pesados: chamar o querido monsenhor Baggio para dar extrema-unção a um doente que não existia; encomendar uma lista enorme de compras no armazém para entrega na casa de quem não pediu nada; tocar na Sanitária Guarani e perguntar se não é da “Sanitária Ponte Preta”; telefonar para a loja Líder e saber se era da “Lanterninha”; deixar o número do cemitério para alguém e dizer que ‘dona Alma’, ligou; ou atender a uma ligação com toda a convicção: “Aqui não tem telefone!”.

(O radialista Pedro Azevedo tinha um programa na PRC-9, nas tardes de domingo: ‘Acumulada Esportiva Vescan’. Durante a semana, as pessoas se inscreviam e no domingo ele ligava para os participantes, pedindo palpite para os jogos da Ponte e do Guarani. No fim do ano, os maiores acertadores concorriam a uma Lambretta. A gente inscrevia a cidade inteira, e no domingo, o coitado do Pedro ligava para todo mundo e ninguém sabia do que se tratava. Até que acharam melhor confirmar cada inscrição…)

Agora, essas brincadeiras custam caro. Olha o que saiu no bom site jurídico “Migalhas”, semana passada: “Massagem cara — A Telesp deverá indenizar uma aposentada com 50 salários mínimos, segundo decisão do STJ. A empresa publicou indevidamente o telefone da mulher em lista telefônica. O filho da aposentada fez um curso de especialização em quiropatia (técnica de realinhamento dos ossos da coluna vertebral). Ao anunciar seus serviços, a Telesp colocou na seção de massagens o nome da aposentada, que seria a proprietária da linha. De acordo com o processo, a aposentada ‘passou a receber telefonemas de pessoas interessadas em usufruir o serviço anunciado, visando apenas desfrutar de momentos de luxúria e perdição.’”

E foi com convicção que naquela tarde, atendi a alguém que pela enésima vez ligou em casa querendo falar na farmácia do Taquaral. O diálogo foi patético:

— Novaes? É a Lílian. Por favor, quando o Ruy vier para casa, peça para ele me trazer uma caixa de Modess.

— Novo ou usado, dona Lílian?

Puts! Acho que era a mulher do dono da farmácia!

Pregado no poste: “Político faz promessa, mas quem paga é o povo”

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