Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Nossos desvalores

Juro que eu não sabia: existe um brasileiro ganhador do Prêmio Nobel. E nunca deram bola para ele. Peter Brian Medawar nasceu em Petrópolis, filho de pais ingleses. Aos 14 anos foi estudar na Inglaterra. Aos 18, teria de fazer o serviço militar por aqui. Tentou ser dispensado, para não perder os estudos na universidade de Oxford, mas o nosso glorioso Exército não abriu mão. Resultado, ele se recusou a voltar e teve a cidadania cassada. (Claro: “O que você prefere, Peter, servir o Exército no Brasil ou estudar em Oxford?”. Nem minha avó ficaria na dúvida.).

Ainda bem. Seus estudos renderam para a humanidade avanços notáveis na imunologia e nas pesquisas para transplantes, que lhe valeram o Nobel de Medicina e Fisiologia, em 1960. Dois anos depois, veio visitar parentes e até fez conferência na Fundação Instituto Oswaldo Cruz.

Já que temos um Nobel parecido com aquele título de campeão mundial interclubes do Corinthians, agora, só falta aparecer um ganhador do Oscar que nós não sabemos. De resto, já ganhamos tudo: boxe, surf, futebol, basquete, Cannes, vôlei, vela, atletismo, a neta do Onassis, uma filha do Fidel Castro (duvido), a rainha da Suécia, o filho do Mick Jagger; trouxemos Frank Sinatra, a princesa Diana, seu viúvo, a sogra e o sogro, Paul Macárteney, o Papa, madre Teresa, Clinton, Carter, Bush – até o Reagan, que chamou isto aqui de Bolívia na nossa cara e a gente achou gozado. Lembra? Brasileiro se contenta com qualquer coisa. Duvida? Basta olhar para Brasília.

Imagine! Um argentino é o artilheiro do brasileiríssimo Corinthians e melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Não é à toa que existe um empresário argentino na praça querendo comprar a nossa Varig.

Veja essa. A igreja de São José Operário, em Barra Mansa, Rio de Janeiro, está fechada há sete anos. Foi vendida! O padre vendeu a igreja, meu! Por R$ 350 mil! Sabe quem comprou? Um pastor! Não demora, um político qualquer inventa de levar o cabo do bondinho do Pão-de-Açúcar para sua fazenda.

Pregado no poste: “Falar nisso, cadê os trilhos de Campinas?”

 

 

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