Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Noites de Natal

Tão bonitas, que todas as noites de dezembro pareciam noites de Natal em Campinas. Televisão era divertimento de rico – a beleza, a próxima atração e os campeões de audiência estavam nas ruas, nas vitrines. Tempos em que os campineiros se viam por aqui. Barão de Jaguara, Treze de Maio, Regente Feijó, General Osório, Campos Salles e Thomás Alves eram o palco iluminado da cidade. Por ele, exibia-se tanta gente, que o freguês entrava nas Lojas Americanas pela Treze de Maio e saía na Ernesto Kuhlmann sem pôr os pés no chão. Naquele aperto, um brincava com o outro:

— Como vai?

— Não vou; me levam!

Concurso de vitrines mais bonitas. Bela disputa: Casas Anauate, Elite, a Ezequiel e o fascínio de seus bonecos, R. Monteiro, Ducal, A Soberana, Chocolates Kopenhagen, Coteninga, Zogbi, Garbo, Etam, Firenze, Clark, Ultralar, Eletrorádio, Casa Otranto, A Exposição, Ducal, Picolotto, Sears, Regente, Santa Cecília, Baby, Lord…

Manequins de gesso celebravam naquelas vitrines cenas da festa ou da manjedoura com mais expressão do que as que se fingem atrizes hoje. Era o Natal da família rica, da família pobre; na casa do maquinista da Mogiana, do engenheiro, do médico, do professor, do dentista, do carteiro ou do advogado. O boneco animado, vestido de baronete, encantando a todos na Casa Livro Azul; o Papai Noel da Galeria Paulista de Modas (antiga Casa Alemã); festões verdes, azuis, dourados e vermelhos, ornamentando as paredes das lojas; o presépio animado da família Cúrcio, na esquina da Saudade com Ângelo Simões… Luzes, luzes, muitas luzes. Campinas brilhava!

O susto, a surpresa e o êxtase. Algumas lojas, como a Casa Alemã, mandavam o Papai Noel de caminhão à casa do freguês, entregar os presentes para a garotada da rua. O som dos sinos invadia as ruas na noite da grande véspera! Até coisinhas simples ele trazia: bola, jogo de botões, boneca, carrinho de plástico ou de corda. Era de ver os mais velhos, que passavam o mês fazendo os mais novos crer que “Papai Noel não existe”. Ficavam com cara de tacho. “E agora? Tá vendo? Você disse que ele não existe, ele não trouxe nada para você!” Puts! Quanto marmanjo chorando a descrença ferida!

Contavam que ele chegava no fim da noite e deixava o trenó amarrado no Alecrim do Largo da Catedral. Ali, enchia os sacos com os brinquedos das lojas e saía de casa em casa, para depois partir rumo a outra cidade. Imagine esse sonho realizado hoje e a notícia no Correio do dia seguinte: “Papai Noel escapa de atentado em Campinas. Lojas saqueadas em meio à noite sem luz.”     Pregado no poste: “Papai Noel, queremos aquela Campinas de presente”

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