Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

No tempo do Zagaia

E na retaguarda do progresso, nossa Prefeitura.

Carimbo?! A turma da dona Izalene ainda tem de usar carimbo!? São tão apegados à “crasse trabaiadora”, que a qualidade do trabalho e o conforto do povo que os paga que se danem. “Lá ainda deve existir o cargo de auxiliar do sub-chefe de carimbador interino”, prevê meu amigo Fernando Brisolla, que soube de um desses na Prefeitura de São Paulo, quando José de Anchieta era coroinha, antes de fundar a cidade… O burocrata veio antes da repartição.

O que interessa, mesmo, é conservar o ‘cabidão’ de empregos para os medíocres e garantir votos para os espertos, depois. Imagine instalar fax e intranet nas repartições! “E o que nóis faiz com os oficebóis?” Falta Internet no Paço? É medo do sindicato dos carteiros: “Podem reclamar que perderão o emprego se a gente puser a Internet aqui!” Falam em trocar os ônibus pelos bondes puxados a burro: assim, haverá emprego pra cocheiro e pra burro. “Cocheiro vota? E burro?” Claro que burro vota. No Brasil tem burro que vota; agora, se burro é votado… O que você acha? Burro, não sei. Mas esperto é votado pra burro neste país.

Também faltam copiadoras. “Não compre, não! Assim, as fábricas de papel carbono não demitem os companheiros.” Elevador automático, jamais. Não podem dispensar os ascensoristas. Vão passar a vida subindo e descendo. É gratificante ouvir desaforos, fofocas, piadinhas, exercitar a manivela, enquanto as pernas (e a cabeça) atrofiam.

Canetas esferográficas, também não. “E os operários das fábricas de mata-borrões, coitadinhos!?” Devem adorar aquele personagem d’O Senhor Embaixador, do Érico Veríssimo, louco por papelaria: apontador de lápis; mata-borrão; borrador; tinteiros; clipes; grampos e seus grampeadores; lápis-cera; esponjinha para molhar os dedos; borrachinha e escovinha de limpar tipos de máquina de escrever; fitas para as ditas; kardex; alfinetes; aba de boné para se proteger da luz; liga para manter a magna erguida e não sujar os punhos; tinta roxa para mimeógrafo; papel estêncil; acolchoadinho para carimbos; prateleirinhas redondinhas de metal para pendurar os ditos; pastinhas para arquivar os processinhos ( “Ai que frisson!”, se agita a burocrata de plantão.).

(Dona Izalene, a senhora quer apostar? Depois de toda essa brincadeira, aquela sua amiga vai me escrever dizendo que a Prefeitura precisa ter ‘kardex’ nas repartições, porque os ‘kardecistas’ também têm direito ao trabalho… E aos trabalhos.).

Pregado no poste: “Burro é quem vota no esperto”

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