Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

No lugar certo

A ferrugem está destruindo a creche municipal “Professor Hilton Fredericci”, na Vila 31 de Março. Na pré-escola “Guilherme de Almeida”, Jardim Aerocontinental, as crianças não podem ir ao parque por causa do mato – podem ser atacadas por cobras! O drama se repete na “Lídia Bencarini Maselli”, Jardim Aeroporto. A repórter Adriana Miranda me contou que a escola infantil “Carlos Zink” está fechada.

E o ilustríssimo senhor secretário municipal de Educação (!) deu esta pérola de justificativa: “Não adianta as mães ficarem reclamando. É preciso ver se o quintal delas está limpo. Porque elas não ajudam, em vez de ficar só esperando por uma solução vinda do Poder Público?”. Se o quintal dessas mães está sujo ou não, é problema delas. O que a reportagem mostra muito bem é que o “quintal” da conta do ilustre secretário está imundo. E ele não cuida. Ainda diz que as mães é que deveriam cuidar do “quintal” dele. Seria algo como a faxineira pagar para limpar a casa da patroa.

Se os homens do Poder Público não cumprem sua obrigação de, pelo menos, manter as escolas, o que justifica sua cara presença no poder? São pagos, muito bem pagos, com dinheiro arrancado justamente das famílias cujos filhos merecem uma escola decente e que eles têm obrigação de oferecer e administrar. A única explicação para esse deboche contra as crianças e seus pais é o desprezo com que tratam a sociedade (depois de eleitos). A Procuradoria da Infância está em férias?

O mesmo ilustre secretário empurrou a culpa pelo descalabro para cima de outro ilustre, o de Operações. E este, para confirmar o desprezo que dele merece a sociedade, mandou sua assessoria dizer que “estava muito ocupado”. Pais e filhos que se danem. Afinal, o salário (elevadíssimo) das autoridades está garantido no fim do mês e quem paga é justamente aqueles que elas desprezam.

Não sei como está a situação das demais escolas mantidas por essa Prefeitura. Mas essas três mostradas pela Adriana Miranda não devem ser exceção, em vista do estado em que se encontra toda a cidade.  Pela lista de nomes de grandes campineiros e campineiras que homenageiam estabelecimentos que deveriam ser de ensino, o deboche vai mais longe. É um desrespeito com toda a sociedade e com toda a história de Campinas.

Por acaso, alguém nessa administração sabe quem foi Hilton Fredericci, Guilherme de Almeida e Carlos Zink? Pelo menos já ouviu falar sobre a importância desses três gigantes campineiros do ensino e da literatura? Duvido. Seus nomes e sua história estão nos livros e na memória de quem só tem de agradecer a passagem deles por nossas vidas. Honraram Campinas.

Tive a ventura de conviver com eles e de conhecê-los muito bem. Figuras inesquecíveis, de uma grandeza de espírito público          e de caráter magistrais. São grandes expressões do humanismo, da arte e da dedicação para com os filhos dos cidadãos. Foram responsáveis e engrandeceram os cargos que exerceram. Os pais podiam confiar os filhos a homens como Fredericci e Zink; podiam incentivar a leitura de Guilherme. Hoje, os pais não podem confiar seus filhos a estabelecimentos de ensino entregues a certos administradores. A diferença será um futuro incerto.

Uma sugestão profilática: que os familiares de todos os homenageados (ou humilhados?) com nomes de escolas municipais de Campinas verifiquem o tamanho da negligência da Prefeitura e exijam a retirada dos nomes de seus antepassados queridos dessas escolas tornadas “espeluncas” pelos governantes. Elas que passem a ter o nome deles – o nome certo no lugar certo.

Pregado no poste: “Seo Pagano, dê uma olhada no seu quintal”.

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