Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

No lugar certo

Desafio lançado pelo Miguel Nucci, campineiro até a medula:

“Há cachorros que dormem até 15 horas por dia e tem toda a comida preparada para eles, mas comem o que querem, sem custo. Vão ao veterinário, quando necessário, e não pagam nada. Moram em boa vizinhança, em casas muito maiores do que o esperado – se sujam, alguém limpa. Escolhem os melhores lugares da casa para dormir, tudo completamente grátis. Todas as suas despesas são pagas por outras pessoas, que precisam sair de casa para ganhar a vida, todo dia. Pensando sobre isso, de repente me vem a pergunta: quem são esses cachorros? Os acertadores levam a coleção completa dos livros do Zé Sarney, que rima com lei, assim como Brasília não rima com quadrilha.”.

Sem mudar de pato pra ganso, descobri, justamente em Campinas, algo que pouca gente conhece: o destino do traidor da Inconfidência Mineira, Joaquim Silvério dos Reis. A pérola está na biblioteca da Puccamp, numa coleção de opúsculos chamada “Notícia Bibliográfica Histórica”, do saudoso professor Odilon Nogueira de Matos, um os melhores especialistas do mundo em achados históricos. A Meyre Raquel Tosi, minha amiga desde a velha infância, embora seja nova, ex-comandante daquela nau de conhecimento, achou e me mandou. Está tudo lá, com o melhor da história:

Conta o historiador Manuel de Jesus B. Martins, na obra do professor Odilon, que após a prisão dos inconfidentes, em maio de 1789, o delator ficou preso, para disfarçar, até janeiro de 1790, na Fortaleza da Ilha das Cobras. Bateu o pé e exigiu, na condição de “primeiro denunciante da conjuração”, o direito de cobrar o que lhe foi prometido em troca da delação: quitação de sua dívida de 400 mil cruzados com a Coroa, mais uma recompensa de 400 mil cruzados e proteção pessoal (até os tios queriam pegá-lo). Partiu para Portugal em 1794 e lá recebeu tudo, até a condição de fidalgo da Casa Real, o hábito de Cristo mais pensão anual de 200 mil réis. Acredite: com Napoleão fustigando Lisboa, voltou ao Brasil com a família real! Chegou ao Rio e se abriu com a Corte: “Se fico aqui, amigos e parentes dos inconfidentes me matam!”.

Foi mandado para o Maranhão. É! Para o berço da outra família real! Latte rose, rose latte! Lá, virou Coronel Agregado do Regimento de Milícias, com patente assinada pelo Príncipe Regente (d. João VI!), faturando 200 mil reais por ano! E teve o topete da peruca de pedir ao filho Luís José dos Reis Montenegro, de cinco anos (!), a patente de cadete de Regimento de Linha e um soldo a ser estudado. Morreu bem de vida, em 1819, mas seu túmulo sumiu. Pelo jeito, a cicatriz ficou. Ou não?

Pregado no poste: “Como dói ser brasileiro!”

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