Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Nem vereador

A primeira (e única) reclamação que ouvi contra motéis na vida foi há mais de um quarto de século. E partiu de uma vereadora, da cidade de Cotia, preocupada com a proliferação na Rodovia Raposo Tavares. Hoje, só no trecho da Grande São Paulo daquela estrada, deve ter mais hotéis do que na Grande São Paulo inteira. Ninguém segura. A pílula liberou a mulher e acabou com os bordéis. Desapareceram a Paraguaia, a Pingüim, a Eny (em Bauru), a Ripolândia (em Piracicaba)… Pergunte ao Rogério Verzignasse o que aconteceu com a Albertina, aqui em Ribeirão. Mudou para não acabar.

Agora, um vereador em Santa Bárbara d’Oeste inventa de proibir a abertura de motéis na cidade – que só tem um. E ele diz que não podem existir motéis porque a Bíblia não fala na existência deles. “Craro!”, exclamou um velho amigo do Rogério, assíduo freqüentador da Ripolândia, dos tempos em que “prima” era só a filha da tia da gente. Como a Bíblia ia falar em motel, se pouco tempo antes, Adão e Eva mal se conheciam? E eles não tinham carro para chegar lá. No Paraíso, motel aceitava camelo?

Para esse vereador, camisinha também devia ser proibida, porque Adão não usou – nem Eva obrigou, é verdade. Pílula, nem pensar. Cama? Não havia camas na Bíblia, muito menos redonda – talvez um espelho no teto, mas não sei, não. O jeito era dormir numa esteira e fazer besteira…. No “Xeque-mate”, o Edmilson Siqueira lembrou-se de que para esse vereador não poderia haver navios – nada além da arca de Noé. Relógio, só ampulheta (repito, a-m-p-u-l-h-e-t-a); celular era chifre de touro (depois do sacrifício); ábaco servia de computador, mas não pegava a Internet; papiro não caberia no fax; sauna e hidromassagem, só com fogão a lenha e ducha de bambu – ou tromba de elefante.

Imagine a gente de Santa Bárbara, se esse vereador aprovar seus projetos, usando só o que existe na Bíblia. Pode ser até que, talvez, quem sabe, os barbarenses tenham a chance de ser mais felizes do que nós: a Bíblia não fala na existência de vereadores nem de câmaras. Que tal? Não é uma boa idéia? Apresente um projeto, nobre edil! E conte com meu voto.

Pregado no poste: “Salário mínimo, R$ 181; governo, 171”

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