Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Nem só de Ponte e Guarani

Parece que ainda ontem os campineiros podiam ver (bons) jogos de futebol, basquete e provas de atletismo naquele estádio da Praça Hideo Noguchi. No caminho, a torcida pegava a Barão de Itapura, entrava na Cândido Gomide e, antes, passava no Bar do seo Zé Conagim, para tomar o melhor sorvete de milho verde da cidade — feito naquela máquina enorme, mexido com colher de pau. Ou tomar um lanche no Bar do Alípio, na Rua Camargo Paes.

O clube faria setenta anos neste sábado. Trabalhadores ferroviários, apaixonados pelo esporte, ergueram uma obra inacreditável para a época, 1940. Imagine, naquele tempo, um estádio inteirinho de alvenaria, sustentado por armações de trilhos de trem (se der um terremoto em Campinas, o campo do Mogiana não cai…). Nenhuma arquibancada de madeira, tribuna de honra, camarotes, cabines para emissoras de rádio e jornais, torres de iluminação, quadra de basquete, vôlei e futebol de salão, pistas de atletismo e academia de boxe. Um placar luminoso ficava entre o campo de futebol e a quadra. Quem assistia ao basquete acompanhava o resultado do futebol ao mesmo tempo. Drenagem perfeita: sob o gramado, a camada de carvão coque não deixava formar poças d’água. Na época, nenhum clube grande da Capital, nem Ponte ou Guarani, tinha um estádio igual. No Rio, só São Januário, do Vasco da Gama. O magnífico “Horácio Antônio da Costa” ficou pronto no mesmo ano do Pacaembu. Campinas era assim!

Ali, a cidade viu exibições inesquecíveis de Argemiro Roque, Odete Valentim Domingos, Elizabeth Cândido, Conceição Aparecida Geremias – atletas patrocinados exclusivamente pela alma campineira. Que garra!

Em campo, pelo glorioso Esporte Clube Mogiana, desfilavam Clóvis (depois, Guarani e Fluminense), Brade (depois, Ponte Preta), Moringa, Paulo Roski, querido jornalista e chargista, Sérgio Langoni, Godo, Chuchão, Barroca, Cabinho, Maneco, Enéas Baroni, Nenê…

O “Tricolor de Campinas”, de camiseta branca, azul e vermelha, jogou a Segunda Divisão de Profissionais de 1947 a 1950 e em 1958 e 59. Depois, o governo do Estado inventou de encampar as ferrovias, e matou o Mogiana. Já reparou? Tudo em que o governo põe a mão apodrece. Ficou a fibra de heróis desse que foi o terceiro time profissional de Campinas e que sempre dividiu o coração de bugrinos e pontepretanos. Neste sábado, ex-jogadores de todas as categorias de todos os clubes de Campinas vão se reunir no Restaruante Apaloosa’s, na General Carneiro, para comemorar os setenta anos do Mogiana. Quem tem muita história para contar é o seo Ayres Pereira Filho, que trabalhou no Expediente, Protocolo e no Arquivo da Companhia Mogiana, e foi o goleiro do juvenil vice-campeão de Campinas de 1957. Ligue para ele: 323232570 ou 32327745.

Pregado no poste: “A policia prende, a lei manda soltar. Adivinhe: quem faz as leis?”

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