Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Nem por isso vamos caçá-la

Mulher tem horror a comprar vassoura em supermercado, feira, armazem, loja, quitanda… Quitanda vende vassoura? E se a moça do caixa perguntar: “Quer que embrulhe ou vai voando?”? E o Jânio Quadros? O Brancato Júnior arrumou aquela vassourinha e o fujão varreu a bandalheira — pra dentro do próprio cofre? Em Campinas, ninguém acreditava em bruxa, mas que ele existe, existe? E não é a “Bruxa do 71”, que apavora o Chaves & Cia.. Essa é aquela que apavora… Deixe pra lá.

A bruxa está a solta na cidade? Faz tempo? Quando acontece, é um tormento: fechar negócio; viajar de avião; subir em escada; entrar em elevador; andar sozinho; sair à noite; ficar debaixo de um lustre; usar faca afiada, papel higiênico muito fino, camisinha velha; esquecer que tomou laxante e sair por aí; escorregar em casca de banana; comer camarão estragado… Pisar em testemunhos de cachorro não é nada, duro é cair sentado neles…

Nosso folclore não perdoa. Nos dicioniários, “bruxa” é mulher feia e/ou rabugenta; bruaca, canhão, carcaça, coruja, cuca, jabiraca, medusa, megera, muxiba, seresma, serpe, serpente, urucaca, xaveco. Por esses sinônimos já deu para descobrir a bruxa que anda por aí? Também pode ser boneca de pano, pavio de lamparina, mariposa… Em Goiás, diz a lenda, é a última das sete filhas de um mesmo casal que não foi batizada pela irmã mais velha, e que vira coruja, e, à noite, entra pelo telhado e pelas janelas para chupar o sangue de crianças. Bebe cachaça e pia forte, voando e soltando gargalhadas. Ainda não deu para saber quem é?

Machista esse Aurélio. Ali, “bruxo” é só aquele que faz bruxarias, mago, boneco de pano usado para trabalhos maléficos ou bruxo do inferno, o diabo. Esse deve ser algum lugar-tenente ou eminência parda da bruxa que ronda Campinas. Mas parece que tdo começou com um bruxo – dizem que foi um macho da bruxa que matou o Alecrim. Enquanto isso, a fêmea do bruxo preferiu nossos jequitibás.

Ainda não descobriu?

Já pensou se essa bruxa, feiticeira como ela só, inventa de pegar carona no trenó do Papai Noel? Não vai dar outra, no Natal, veremos o bom velhinho chegar de vassoura e de saco vazio. Mais vazio de presente que esta cidade que está sem futuro e com passado destruído.

Só faltava essa para esculhambar de vez a cidade. Diz o repórter Fábio Gallacci que dos 24 jequitibás do bosque, 15 foram atacados pela vassoura de bruxa, a mesma que acabou com as lavouras de cacau da Bahia. As árvores do Bosque São José também estão doentes. Exatamente um dos símbolos sagrados da cidade, assim como o maestro Carlos Gomes, esquecido na Semana de… Carlos Gomes. O que falta acontecer? Nem Átila faria pior por Campinas do que essa bruxa de vassoura ou vice-versa, sei lá.

Outro risco enorme ronda nossa terra e nossa gente. Bem na frente do Palácio dos Jequitibás, justo dos jequitibás, onde deixaram morrer seo Rosa, há outro que ainda (ainda bem) não foi atacado. Mas corre grande perigo por estar bem ali. Doutor Matthes, quantos dias demora para um ataque de bruxa contaminar um jequitibá, meu Deus!?

Já pensou se essa bruxa, feiticeira como ela só, inventa de pegar carona no trenó do Papai Noel? Não vai dar outra: no Natal, veremos o bom velhinho chegar de vassoura e de saco vazio. Mais vazio de presente do que esta cidade que está sem futuro e passado desprezado.

Pregado no poste: “Quando a Justiça solta bandidos, fico com medo da lei”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *