Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Não falei?

“Agora, eu penso: aquele governador americano, brincalhão, além de impor respeito a seus pares, metia medo. E aquele dedo apontado para mim, acompanhado de um sorriso, não era um gesto de simpatia, mas de arrogância. Meu medo cresce porque, poucos sabem, além da Amazônia, outra reserva de água doce, a maior subterrânea do mundo, o Aqüífero Guarani, está embaixo de nós, com quatrilhões de barris de água. E eu não quero um yankee pondo o dedo na nossa cara dizendo: “Nós precisamos dessa água de vocês e vamos levar!”

Assim termina um artigo que escrevi há uns três meses aqui no nosso Correio Popular, alertando para a eterna fúria gananciosa do Primeiro Mundo em cima das riquezas do Último Mundo. Thommy Thompson, aquele governador do estado de Wisconsin, é hoje secretário de Saúde do Bush e, na época, 1995, apontou o dedo para mim e profetizou: “Precisamos desse álcool de vocês e vamos levar!”.

Adivinhe o que está acontecendo esta semana, em Araraquara? O louvável e oportuno “Fórum Social do Aqüífero Guarani”, em defesa da maior reserva de água pura do mundo. Reúne especialistas brasileiros e sul-americanos, representantes de instituições sociais, comunidades indígenas… e políticos (estes, dispensáveis, mas…). São gentes do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, países que estão sobre os 1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão do aqüífero.  Aqui, a reserva está debaixo de Goiás, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Dois terços do aqüífero estão no Brasil e no total são 45 mil quilômetros cúbicos de água.

Muito bom, mas o ruim vem agora. Eles não têm absolutamente nada a ver com o aqüífero desta parte do mundo, assim como não têm nada a ver com o que os países produtores de petróleo fazem com o que jaz sob suas terras. Mas veja o que saiu no jornal Tribuna Ribeirão, de Ribeirão Preto:

“O movimento Grito das Águas, organizador do evento, está preocupado com o fato de, recentemente, o Global Enviroment Facility, que recebe contribuições do G-8 – os sete mais ricos do mundo mais a Rússia –, ter lançado um amplo projeto de mais de US$ 20 milhões, para estudar e levantar informações sobre o Guarani. …Segundo o Grito das Águas, estudos de centros de pesquisas estratégicas latino-americanas, como o World Wacht, que edita anualmente o relatório ‘O estado do mundo’, alertam para o fato de dos EUA já instalarem bases militares em áreas capazes de controlar o acesso às águas, na Argentina. E países do Mercosul são pressionados a aceitar a Alca, na qual a água será transformada em mercadoria.”

Pregado no poste: “Estado violento: governo X idosos”

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