Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Na raça

Vale a pena ler de novo esta história do famoso e justo orgulho de ser campineiro (e da raça). O digno e altivo José Bento de Assis Filho, cujo pai fora professor de Geografia do “Culto à Ciência”, era recordista sul-americano dos 100 metros rasos – chegou a 10 segundos e seis décimos na competição de 1937, no estádio de São Januário, correndo pelo Vasco da Gama. Convocado para a Olimpíada de 1936, em Berlim, como nossa maior esperança de medalha de ouro, recusou, enojado. Sabia do racismo que já contaminava a Alemanha. Coisa de campineiro. Tempos de Campinas vivida por cidadãos nas ruas e no Poder. Cultura e esporte andavam juntos, na nossa terra. Hoje, nem cultura nem esporte; só cidadãos — mas os das ruas.

Tínhamos grandes feras: Argemiro Roque, Elizabeth Cândido, Odete Valentim Domingos, Conceição Aparecida Jeremias, João Pires Sobrinho, os irmãos Mathias… No futebol, então, nem se fala.

Nossa nova glória vem da vizinha Jundiaí, consagrado em plena Alemanha, onde Hitler engoliu o negro Jesse Owens na Olimpíada, ou teria engolido o campineiro Assis. É o Grafite, ex-vendedor de sacos plásticos, aqui e na terra dele, terra que também nos deu Nicanor, Benê e Dalmo. Grafite,  craque e campeão pelo o São Paulo Futebol Clube da Fé, que no Tricolor e na Seleção superou preconceitos e protagonizou a primeira prisão de um jogador por racismo. O zagueiro argentino Leandro Desábato, do Quilmes, foi para a cadeia após chamá-lo de macaco – devia ter ficado lá para sempre.

No fim de semana que passou, essa humilde figura guerreira, em plena Alemanha estigmatizada pelos nazistas, igualou o recorde do mesmo brasileiro Aílton, como maior goleador estrangeiro da história do futebol alemão, com a camisa do Werder Bremen: 28 gols na temporada. Transformou a casca de banana atirada contra ele no Pacaembu, com a inscrição “Grafite Macaco”, na taça de campeão alemão de 2008-09.

Pregado no poste: “A melhor vingança é a indiferença”

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