Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Montão Du

Sabe o que é isso? A repórter Wilma Gasques foi lá ver do que se trata e diz que o negócio se escreve “Mountain Dew” e se pronuncia “Montão Du”. Traduzindo da língua da matriz para a da colônia, é qualquer coisa parecida com orvalho da montanha. Não se deve pronunciar “diu”, porque o produto seria confundido com “dispositivo intra-uterino” e ninguém compraria. Afinal, é um refrigerante e “diu”, cuidado!, não é na boca que se usa.
“Outro refrigerante para o corpo; mas quando vão lançar um refrigério para a alma?”, diria o cônego Caran, na porta da Catedral. (Padre Caran!!! O senhor por aqui! Que prazer! Recebi mensagem de um ilustre campineiro que diz ter um segredo sobre a Catedral que, acho, interessa a nós dois. Mas ele não garante, por enquanto, se esse segredo revela quem matou Odete Reuteman, digo, Salomão Ayala, digo, o Alecrim. Falar nisso, caro padre, um belo Alecrim seria um refrigério para o largo da nossa Matriz, não?).
Os refrigerantes tinham nomes menos complicados: guaraná, vanete, caçulinha, sodinha, gengibirra, tubaína, Xodó da Bahia, baré, maçãzinha… Depois, ficou difícil de ler, até de falar: 7UP (Seven Up, que diziam ser Sevenape), fanta, grapete, pepsi, chuépes, gatorade, sprite, kuat, crush, gingerale… Já desenrolou a língua? O quê? Engasgou?
Até nome de cerveja complicou. Eram Antárctica, Brahma, Mossoró, Caracu, pílsen, chope… Agora, kronenbier, haikenen, carlsberg, budevaiser, kril, molson, schincariol – quando a gente consegue terminar de falar… passou a sede.
Já pensou? “Quero beber um Montão Du.”. “Du” tem gosto de quê? “Já tomou seu Du hoje?” Será que caracu tem assento no “u”, professor Abramides? Palavras terminadas em “u”, como Pacaembu, Embu, bambu e outras menores não são acentuadas. E caracu não tem assento, “por mais paradoxal que possa parecer”, diria um locutor de futebol.
Mestre Abramides ensina também que “não se acentuam graficamente os vocábulos paroxítonos finalizados em ‘ens’: hifens, polens, liquens, germens, etc.. Hífen também se escreve ‘hifem’, com “m” e sem acento, cujo plural é ‘hifens’”. Regras da nossa língua, só ela, que nos faz pensar de um jeito, falar de outro e escrever de outro. Por isso, quando fala “Coca-cola”, alguém se lembra de que há um hífen entre a coca e a cola?
Agora, cuidado! Insisto, Coca com tubaína é para beber, não para cheirar. Com hífen ou sem, com acento ou não, no caracu ou no du, ou cara…du.
Pregado no poste: “Português, língua morta.”

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