Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Moeda falsa

“Seu” Pagano, o senhor vai jogar dinheiro fora.
Os motoristas têm razão. Não há parquímetro à prova de vândalos. E a cidade está cheia deles. Não adianta nem colocar o nome pomposo de “controladores eletrônicos de estacionamento”. Nome pomposo é coisa do Maluf, aquele que o senhor, ex-herói da resistência, anda seguindo. Quem diria! Esse Maluf inventou de duplicar a rodovia “João Ribeiro de Barros”, entre Marília e Adamantina, sem construir canteiro central no meio das quatro pistas. Sabe o nome que ele pôs na “moda”? Tratamento geométrico experimental. Pelo jeito, estão “experimentando” até hoje. Outra: quis transformar a Avenida São Luís, em São Paulo, num calçadão. Disse que a obra se tornaria um boulevard periférico de trânsito rápido. Calçadão com trânsito? E rápido? De tanto mandarem o Maluf criar galinhas, ele foi…
Voltando aos vândalos. Vândalo, como o traficante de drogas, não é gente. Para eles, tudo o que é para todos não pode ser de ninguém. Faz tempo. Lembra de quando o hoje profanado Cine Brasília foi inaugurado? Pois é. Na sessão de estréia, eles rasgaram dezenas de poltronas. Na época, foi um escândalo. Agora, ninguém liga mais. Nem fica sabendo. A Campinas de que o senhor é prefeito é outra — um grande presídio. Os campineiros trancafiados em casa já não sabem o que é sua cidade. Logo, logo, em vez de “prefeito”, vão chamá-lo de “chefe de cadeia…”.
Parquímetros. Vão colocar um guarda para vigiar cada um? Então, em uma semana, não sobrará um em pé. Como os orelhões; os bancos de jardim (ainda há jardins em Campinas, “seu” Pagano?); como o Largo da nossa Catedral, onde um belo alecrim foi executado por vândalos funcionários da… Prefeitura! Falar nisso, plante um alecrim no Largo da Matriz, “seu” Pagano! E mostre para a cidade quem é o prefeito, de fato e de direito.
O senhor sabe o que aconteceu da última vez em que tentaram pôr parquímetros em Campinas — naquele tempo, havia menos vândalos. Era 1974 ou 1975. Uma empresa norte-americana, “Isadora não sei das quantas”, baixou na cidade, com os homens de sapatos pretos cheios de furinhos, terno preto e meias brancas, carregando os “aparelhos”, pra baixo e pra cima.
Armaram o “paliteiro” aí na General Osório, na frente da Garbo e do Café do Povo, até a Vovó Lusitana. Na Barão de Jaguara, enfileiraram os ditos do Éden Bar até a Livraria Brasil, mais pra frente. Nesse trecho. Acho que nem as calçadas do Largo do Rosário escaparam.
Não era moeda. Tinha que se trocar dinheiro por uma rodela de metal furada no meio para enfiá-la na fenda do parquímetro. Rodela especial, à prova de fraude, mas não à prova de vândalos nem do “jeitinho” brasileiro.
No primeiro dia, a novidade funcionou. Na manhã seguinte, boa parte estava torta. Parecia que tinham servido de escora para o pessoal que exagerava no chope do Giovanetti. Polêmica.
O popularíssimo vereador Orestes Segalio acabou com a festa. Em vez de comprar a rodela, enfiou uma tampinha amassada de cerveja no buraco do parquímetro e fez girar o ponteiro. Deu certo! Os americanos ficaram loucos da vida, queriam processar o vereador por uso de moeda falsa, aquelas coisas. Que nada, o Orestes só queria provar que aquilo era uma besteira. Provou. Ainda vi os americanos embarcando em Viracopos, cada um com uma tralha daquela debaixo do braço. Estão de volta?

 

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